Adriana Fernandes

Jornalista em Brasília, onde acompanha os principais acontecimentos econômicos e políticos há mais de 25 anos

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Adriana Fernandes
Descrição de chapéu Congresso Nacional

O sinal dado por Haddad ao desidratar a reforma do Imposto de Renda

Ao optar por mudança para cumprir tabela, ministro quer evitar derrota no Legislativo e mitigar perda de arrecadação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A decisão do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de adiar o envio ao Congresso de um projeto robusto de reforma do Imposto de Renda é, provavelmente, um dos mais importantes sinais da estratégia da equipe econômica neste ano.

Após a Fazenda ter conseguido ancorar as expectativas em torno da possibilidade real de entregar um resultado das contas públicas bem mais próximo da meta de déficit zero, a agenda de Haddad ficará concentrada na tentativa de aprovar uma boa regulamentação da reforma tributária e o pacote de nove projetos para reduzir os juros bancários e limpar o canal de crédito.

Ao esforço acima, soma-se a busca de um acordo com deputados e senadores menos doloroso para o bolso do Tesouro em torno dos projetos da desoneração da folha de pagamento das empresas, municípios e do Perse (o programa de incentivos para o setor de eventos).

Zanone Fraissat - 29.fev.2024/Folhapress
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante encontro do G20 em São Paulo

Ao optar por uma reforma do IR só para cumprir tabela, Haddad quer evitar uma derrota fragorosa no Legislativo e busca mitigar a perda de arrecadação.

No mais, Haddad terá que segurar as genialidades, para usar uma palavra já empregada pelo próprio Lula, que dia sim dia também surgem na Esplanada e no Congresso em ano de eleição nos municípios.

O governo não quis encaminhar uma proposta ampla de reforma do Imposto de Renda —sem chances de ser aprovada com a volta da tributação de lucros e dividendos— e, ao fim, deixar o projeto na chuva sob ataque de críticos. O risco de a proposta ficar inviabilizada seria muito alto.

A sinalização da estratégia da Fazenda foi dada nesta sexta (15) por Bernard Appy, secretário de reforma tributária, que disse que a reforma do IR não será "um grande projeto". Um dia antes, integrantes da Fazenda davam como certo que a proposta nem sequer seria enviada —o que implicaria no descumprimento de um comando constitucional aprovado na reforma tributária.

O fim da isenção do Imposto de Renda dos lucros e dividendos (o benefício existe desde 1995) é central para a reforma, mas ficou bem mais difícil (ou quase impossível) conseguir avançar nos termos que o governo Lula quer para incrementar a arrecadação e garantir maior justiça no sistema tributário.

Para isso, seria necessário garantir um saldo positivo de arrecadação entre a volta da tributação e a redução do Imposto de Renda das empresas —medida sem a qual a reforma não passa.

Em ano eleitoral, Haddad teria de lidar com a pressão política para o governo entregar nessa reforma a promessa de campanha de Lula de aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física para R$ 5 mil. Ao fim e ao cabo, o risco seria de perda de receita.

Não foi uma decisão fácil para a Fazenda, porque a tributação de lucros e dividendos é uma pauta cara à esquerda.

Haddad tampouco quis comprometer a aprovação da regulamentação do IVA (Imposto sobre Valor Agregado). A tramitação dessa regulamentação até o fim do primeiro semestre, já se sabe, será um caos.
Noves fora, o lobby pesado dos empresários começou a granjear apoios no Congresso contra mais medidas de alta da arrecadação.

O estudo do economista Samuel Pessôa, do FGV-Ibre, antecipado pela jornalista Alexa Salomão, da Folha, botou ainda mais lenha na fogueira. O trabalho de Pessôa diz que a estratégia de Haddad de focar na tributação sobre grandes empresas para elevar a arrecadação pode surtir o esperado efeito no curto prazo e aumentar a receita, contribuindo com o esforço de ajustar o fiscal. Mas cria riscos no longo prazo, que inibem o crescimento econômico do país. Sem dúvida, esse será o debate mais duro de política econômica dos próximos anos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.