Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Alexandre Schneider

Como formar um bom professor?

Enfrentar a pandemia teria sido muito mais suave aos estudantes se aprender fosse apenas 'receber conteúdos'

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Se há algo que a pandemia revelou foi a importância da escola e dos educadores. A escola, mesmo que precise repensar sua organização de tempos e espaços, segue e seguirá como um lugar —não o único— da formação integral das pessoas. Os educadores, que são constantemente provocados a rever suas práticas, são cada vez mais centrais, o que requer refletir sobre sua formação.

Há uma ideia arraigada em nossa sociedade de que ensinar é transmitir conteúdos. Ela é tão potente que, mesmo que o discurso seja oposto, materializa-se nos currículos de muitas faculdades de educação e nas expectativas de muitos pais ou responsáveis em relação à escola de seus filhos.

Enfrentar a pandemia teria sido muito mais suave aos estudantes que conseguiram se conectar ao ensino remoto (infelizmente, a esmagadora minoria dos milhões de estudantes brasileiros) se aprender fosse apenas “receber conteúdos”.

Boa parte dos nossos cursos de formação de professores é composta por um conjunto expressivo de disciplinas destinadas à discussão das teorias educacionais e dos conteúdos a serem ensinados e muito pouco sobre como ensinar.

É falsa a tensão entre teoria e prática. É evidente que que um professor deve compreender a teoria educacional e os conteúdos a serem ensinados. Mas esses sozinhos formam um especialista, não um professor.

O professor é o profissional que mobiliza seu repertório sobre o conteúdo da disciplina que ministra, as teorias de aprendizagem (como as pessoas aprendem) e as integra a partir de uma leitura do contexto em que seus estudantes estão inseridos. Em outras palavras, um bom professor de matemática deve dominar o currículo de matemática, as formas de ensiná-la e ser capaz de realizar as escolhas pedagógicas adequadas para garantir o direito de aprendizagem do seu grupo de alunos.

Formar professores capazes de integrar a leitura do contexto, o conhecimento sólido do currículo e as teorias de aprendizagem exige, portanto, uma integração entre teoria e prática desde o início de sua formação, não a primazia de uma sobre outra.

Uma resolução do Conselho Nacional de Educação homologada em dezembro do ano passado pelo Ministério da Educação procura endereçar essa questão ao instituir uma Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica.

A “BNC Formação Inicial”, como é conhecida, prevê a ampliação da carga horária da formação de professores e a distribui em três grupos: o Grupo 1, com a base comum, com conhecimentos pedagógicos, científicos e educacionais, o Grupo 2, constituído pelos conteúdos específicos das áreas, e o Grupo 3, destinado à prática pedagógica na escola, acompanhada por um professor na escola onde o estudante realiza o estágio e por um professor da instituição em que este está matriculado. As Instituições de ensino superior devem adaptar seus currículos até o fim deste ano, e mesmo para os cursos de EAD a prática pedagógica é obrigatória.

A medida provocou reações acaloradas, em um gradiente que vai da rejeição absoluta ao aplauso eufórico. É preciso cautela. Como toda política pública, o desenho é importante, mas sua implementação é o que determinará seu sucesso.

Da mesma forma que o domínio da teoria musical não transforma alguém em um grande musicista, um bom professor não é aquele que apenas domina o arcabouço teórico-pedagógico de sua área.

Mais do que discutir a regulamentação existente, é hora das instituições formadoras de professores no Brasil se concentrarem em sua implementação, perguntando-se como formar um bom professor. E fazer da resposta sua prática diária.

Agradeço a pesquisadora da Universidade Stanford (EUA), Bárbara Born, pela troca de mensagens enquanto escrevia esse texto.

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