Os novos romanos têm na inteligência artificial a sua sibila. Com a vantagem de que, para se obter a profecia, basta um clique. Dispensam-se as altas somas de dinheiro, o sacrifício sangrento de touros e ovelhas e a perspicácia para compreender o texto dos oráculos —"Roma será escrava de um cabeludo/ Um cabeludo de raros cabelos/ Marido de todas as mulheres/ E mulher de todos os homens"—, pois tudo vem mastigadinho. Até a hora da nossa morte.
Cientistas dinamarqueses desenvolveram um algoritmo de IA capaz de prever quando você vai morrer. O modelo, depois de receber todo o tipo de informação (rendimentos, profissão, local de residência, lesões, gravidez) sobre mais de 6 milhões de pessoas, acertou em cerca de 78% das vezes. Segundo a profetiza nórdica, trabalhar numa tabacaria ou fraturar o antebraço podem ser perigosíssimos. Pertencer ao sexo masculino, idem.
Tal serventia, contudo, não impediu a União Europeia de estabelecer uma referência para aproveitar os potenciais benefícios da tecnologia e ao mesmo tempo proteger a sociedade de abusos e riscos. Um projeto de lei com regras de uso foi aprovado no Parlamento.
Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times entrou na Justiça sob a acusação de que um sistema de IA, o ChatGPT, tem violado direitos autorais. Argumenta que milhões de seus artigos foram usados, sem permissão, para treinar e alimentar o software, que seria uma espécie de robô-ladrão.
No Brasil, que vai viver um agitado e milionário ano eleitoral, há pressão no Congresso para regulamentar as ferramentas. O receio é a proliferação de imagens e áudios manipulados. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, deu uma de xerife: defende a cassação de mandato para o político que desinformar usando a tecnologia. O lobby das big techs contra a regulação já começou. Só consultando a sibila para saber quem ganhará a parada.
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