Moradora de uma cidade satélite da capital federal, Maria trabalha como diarista e se orgulha de dizer que teve a sorte de manter o serviço durante toda a pandemia. Pega dois ônibus para atender a clientela no Plano Piloto. É uma mulher resiliente, do tipo que aprendeu a não se abater com facilidade e parece ter sempre uma palavra de esperança na ponta da língua.
Mas alguma coisa mudou nos últimos tempos. O sorriso largo, perceptível até debaixo da máscara, e as palavras doces rarearam. Ambos não se fazem mais presentes com a frequência de outrora. Indagada sobre o que está acontecendo, com a voz embargada, responde que está com medo.
Pudera. Ela conta que em março perdeu duas amigas para a Covid-19, uma vizinha e uma irmã da igreja que frequenta. E arremata: "Ultimamente eu olho pra rua e parece que tem uma tristeza no ar, uma falta de esperança que está sugando a minha energia. Tô me esforçando para não desabar, mas está difícil".
Está difícil mesmo. Sobretudo sabendo que o vírus está fora de controle. Ou, pior que isso, parece que o coronavírus está no controle, matando milhares de brasileiros todos os dias. Semana após semana, o número de mortes cresce assustadoramente, compondo um sinistro cenário de carnificina.
No enfrentamento da pandemia no Brasil, há um enorme problema de comunicação. E é importante lembrar que comunicação não se faz apenas com palavras, envolve muito mais do que o que é dito. Mensagens não verbais possuem força e alcance poderosos.
Na semana passada, a rede de comunicação pública BBC noticiou uma Londres sem mortes pela Covid-19, fruto do lockdown e da vacinação em massa em todo o Reino Unido.
Por aqui, infelizmente seguimos na contramão do planeta. Sem perspectiva de melhora imediata, sem vacina para imunizar todo mundo de uma vez e sem medidas coordenadas que possam fazer frente à pandemia. Por ora, no Brasil o caos suplanta a esperança.
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