Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Ana Cristina Rosa

Amanhã é dia dos mortos

Uma geração de órfãos crescerá sob o estigma do luto

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"Amanhã que é dia dos mortos/ Vai ao cemitério/ Vai/ E procura entre as sepulturas/ A sepultura de meu pai/ Leva três rosas bem bonitas/ Ajoelha e reza uma oração/ Não pelo pai, mas pelo filho:/ O filho tem mais precisão/ O que resta de mim na vida/ É a amargura do que sofri/ Pois nada quero, nada espero/ Em verdade estou morto ali."

Mulher visita o túmulo de parente e presta-lhe homenagem no Dia dos Mortos em cemitério em Santa Maria Atzompa, Oaxaca, México, em 2013 - Jorge Luis Plata - 2.nov.2013/Reuters

Os versos do "Poema de Finados", de Manuel Bandeira, têm mais de meio século, porém são de uma atualidade que reflete a trágica realidade que se instalou em mais de meio milhão de lares de brasileiros que viram seus afetos, vítimas da Covid-19, morrer nos últimos meses.

Ainda não se tem clareza do impacto social das mais de 607 mil vidas perdidas no país, muitas delas em decorrência da negligência no trato da crise sanitária, segundo os indícios. Mas já se sabe que uma geração de órfãos crescerá sob o estigma do luto.

Estudo publicado pela revista científica Lancet apontou que entre março de 2020 e abril deste ano, pelo menos 130 mil crianças e adolescentes de até 17 anos perderam algum dos pais ou responsáveis no Brasil. Considerando que a Covid afeta de maneira mais letal as pessoas negras, é possível inferir que a maioria desses órfãos seja preta e parda.

Independentemente da cor da pele, como diz o poema, tratam-se de "filhos com muita precisão". Não só de oração, mas de ação, pois estão carentes de atitudes que possam contribuir efetivamente com seu desenvolvimento humano.

Além deles, milhares de mães, pais, avós, companheiros, sobrinhos, netos, amigos choram a perda de seus entes para um vírus que pode ser controlado com medidas como vacinação em massa e uso de máscara. Mas a negação e a mentira adubaram terreno fértil para a morte.

Revolta saber que a falta de ar que asfixiou milhares foi causada por um joelho imaginário que impediu a respiração sem precisar tocar no pescoço de ninguém. O luto é doído, sofrido, intenso. Restam o amor, a saudade e a crença na ciência, em memória e em respeito aos que partiram.

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