Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Caça aos livros

A perseguição restringe-se a obras que promovem debate e reflexão antirracista

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Está aberta a temporada de caça aos livros no Brasil! Mas atenção. A perseguição restringe-se à indicação pedagógica de certas obras capazes de promover o debate e a reflexão antirracista no país mais negro fora da África.

Este poderia ser o preâmbulo de uma publicação sobre uma distopia, um "lugar ruim" qualquer. Tragicamente é a síntese da reação adversa desencadeada pela adoção curricular de alguns livros que abordam a temática racial —a despeito da obrigação legal (lei 10.639/2003) do ensino da história e da cultura afro-brasileira em nossas escolas.

A leitura é um hábito fundamental para o desenvolvimento do raciocínio, senso crítico e capacidade de interpretação da realidade. E é justamente na problematização do preconceito e da discriminação que reside a resistência de setores da sociedade que se acostumaram a naturalizar o racismo institucionalizado.

Pintura do artista Antônio Obá que ilustra capa do livro 'O Avesso da Pele', de Jeferson Tenório,  mostra uma pessoa negra de costas, vestindo uma cueca amarela com estampas florais. A pessoa está em frente a uma parede azul clara com uma janela de moldura marrom à esquerda. A luz que entra pela janela projeta sombras na parede e na pessoa.
Pintura do artista Antônio Obá que ilustra capa do livro 'O Avesso da Pele', de Jeferson Tenório - Bruno Leão/Divulgação

Nessa toada, livros como "O Avesso da Pele", de Jeferson Tenório (vencedor do prêmio Jabuti, em 2021), sobre a vida de um professor negro morto numa ação policial; "Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas", de Flávia Martins de Carvalho, sobre 20 personalidades (a maioria negras) com histórias inspiradoras; "O Menino Marrom", de Ziraldo, que aborda a construção da identidade de uma criança preta discriminada ao oferecer ajuda a uma idosa; e "Omo-Oba: Histórias de Princesas", de Kiusam de Oliveira, sobre o conto dos Orixás e mitos africanos, vêm sendo "contraindicados" em escolas brasileiras desde 2018.

O poder combativo da linguagem é inegável. O livro é ferramenta importante no processo de construção da individualidade. E a literatura negra é uma forma de resistência que ajuda a enfrentar a intolerância à diversidade, além de afirmar identidades negras.

A questão é: quem está realmente interessado em promover a equidade racial num país onde critérios racistas definem privilégios e orientam as relações sociais há mais de 500 anos?

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