Ana Fontes

É empreendedora social e fundadora da RME (Rede Mulher Empreendedora). Vice-presidente do Conselho do Pacto Global da ONU Brasil e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República

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Ana Fontes
Descrição de chapéu Todas violência

Por que os homens não estão discutindo a violência de gênero?

Aos homens que me leem e talvez digam que nem todo homem é igual, vocês repreendem outros homens?

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Fato curioso: apesar desta coluna ser direcionada às mulheres, a grande maioria dos comentários —também em sua maioria ofensiva— que recebo são de homens.

Acredito que se usassem dessa mesma energia para corrigir, cobrar e interromper outros homens em falas, atitudes machistas, misóginas e abusivas, estaríamos caminhando mais rapidamente para uma sociedade mais igualitária. Afinal, por que falamos, escrevemos, participamos de passeatas e criamos colunas e publicações sobre esses temas, enquanto os homens praticam violências e os outros acobertam? A conta não fecha e não fechará nunca.

O caso do jogador Daniel Alves é um exemplo recente dessa fraternidade entre os homens. A primeira coisa que ele fez após pagar multa por sua liberdade provisória pelo seu crime? Recebeu amigos encapuzados em sua mansão. Aos homens que me leem e talvez digam que ‘’nem todo homem é igual’’, vocês repreendem outros homens? Corrigem atitudes e falas errôneas? Denunciam abusos? Ser um aliado na luta contra a violência de gênero que as mulheres enfrentam diariamente é mais do que uma regra; é um problema que vocês devem assumir.

Dentro desse sistema patriarcal, os meninos e meninas são ensinados a se comportar de forma diferente em relação a comportamento, sonhos, ambição, vida sexual e mais. Isso levanta a questão: o que isso reverbera em situações de violência contra as mulheres, sutis ou não?

As mulheres crescem acuadas enquanto os homens se sentem livres para ser e fazer o que quiserem. Dessa forma, esse assédio se torna naturalizado e muitas vezes é visto como poder.

Mulheres estão sendo mortas, violentadas e abusadas, e enquanto elas falam, reforçam, gritam sobre isso, são tratadas como "mimizentas". Para aquelas que têm coragem de denunciar, precisam suportar o peso da exposição, do processo, da ridicularização, de suas carreiras arruinadas e, muitas vezes, sem nenhuma resolução. Para aquelas que não denunciam, sobram os traumas sem nenhuma justiça sobre esses atos. Nossas vidas são arruinadas e parece que ninguém se importa de verdade com isso.

Além de nos perguntarmos e também causar essa reflexão nos homens do porquê eles não estão discutindo sobre a violência de gênero, existe uma outra pergunta muito importante a se fazer: por que os homens protegem tanto uns aos outros? Por que eles não corrigem os "brothers" diante de uma fala ou mesmo uma atitude machista/misógina, inclusive quando esta é sofrida por uma mulher que eles conhecem? Quer dizer que a brotheragem está acima de ser alguém decente?

Estamos cansadas, mas desistir não é uma opção. Enquanto sociedade, precisamos ser uma rede de apoio às vítimas, precisamos apoiar umas às outras, incentivar, celebrar e apoiar mulheres.

Aos homens, sempre é hora de mudar, se posicionar, ter coragem e peito para interromper relações e expor outros homens. São os criminosos que precisam ter vergonha, medo dos crimes que cometem, não as mulheres dos abusos que sofrem.

Aos meninos, que sejam ensinados desde cedo sobre consentimento, respeito, gênero, para crescerem como adultos e homens melhores e verdadeiramente aliados.

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