André Liohn

Fotojornalista especializado na cobertura de guerras, vencedor da medalha Robert Capa

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André Liohn
Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Neste momento, cidade de Lviv é o cordão umbilical entre a Ucrânia e o resto do mundo

Ucranianos se armam contra Rússia com garrafas cheias de gasolina e farelo de isopor

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"Você pode me chamar de 'Italiano'. Enquanto aquele demônio russo estiver vivo, prefiro que as pessoas não me chamem pelo meu nome."

O ucraniano Vladimir Karpenko, 37, vive há dez anos na cidade de Nápoles, na Itália, onde trabalha como pintor. Certo de que a Rússia invadiria seu país, ele e sua esposa formaram há duas semanas um grupo online para pedir doações de roupas, mantimentos não perecíveis, medicamentos e produtos de higiene que ele pessoalmente levou até a Ucrânia.

Uma vez lá, não pôde e também não quis voltar —o governo ucraniano proibiu que homens entre 18 e 60 anos deixem o país. Todos em idade e condições de combater são necessários neste momento.

Civis na estação de trem de Lviv tentam escapar da guerra na Ucrânia
Civis na estação de trem de Lviv tentam escapar da guerra na Ucrânia - André Liohn - 27.fev.2021

Antes de se unir às forças de mobilização popular, unidades formadas por civis e reservistas, Vladimir foi ao hospital central de Lviv, no oeste da Ucrânia, para doar sangue. "Meu sangue ficará com o povo ucraniano, de um jeito ou de outro."

Há o risco de que os invasores russos detonem bombas termobáricas durante o conflito, armamento conhecido como "o pai de todas as bombas".

Essas bombas não usam munição convencional —são preenchidas com explosivos de alta temperatura e pressão, sugando o oxigênio do ar ao redor para gerar uma explosão poderosa e uma imensa onda de pressão que pode destruir os órgãos do corpo.

Sob a possibilidade de uma invasão em larga escala, o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, declarou que a capital está cercada, mas reforça que a população e o Exército ucraniano estão prontos para resistir.

Na linha de frente deste conflito, a população ucraniana se une para combater com armas caseiras, como garrafas cheias de gasolina e farelo de isopor, além de coquetéis molotov.

Antes que se tornem vítimas do Exército, centenas de milhares de civis (mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiências físicas e alguns poucos jovens apavorados demais para se colocarem na linha de frente contra uma poderosa força militar) tentam deixar a Ucrânia em direção a algum dos países vizinhos, principalmente a Polônia.

Uma fila de mais de 50 km se estende da cidade de Lviv à fronteira polonesa. Muitos abandonam os carros ou ônibus em que viajam e começam a caminhar sem saber onde poderão comer, descansar ou buscar abrigo do frio e da neve durante a noite.

Na estação de trem, outras milhares de pessoas se empurram sem saber quando o próximo trem deixando o país chegará. Falta comida e água, e os banheiros estão imundos. Neste momento, Lviv é o cordão umbilical entre a Ucrânia e o resto do mundo.

Até agora, o Exército ucraniano conseguiu impedir que forças russas avancem até esta região. A chegada de misseis doados ao Exército ucraniano por países europeus e pelos Estados Unidos limitam a possibilidade de ataques aéreos, mas as sirenes da cidade soam repetidamente alertas para que a população procure abrigos subterrâneos, frequentemente nos porões de casas e prédios da cidade.

Nas ruas, o que prevalece não é o medo, mas o patriotismo dos ucranianos, expresso na admiração pelo Exército nacional. A relação de confiança entre população e forças militares é espelhada principalmente pelo presidente Volodimir Zelenski, que mantém o papel de defensor da "ucranização" da sociedade, fenômeno que Putin acusa ser o início de um fenômeno ultranacionalista.

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