Antonia Pellegrino e Manoela Miklos

Antonia é escritora e roteirista. Manoela é assistente especial do Programa para a América Latina da Open Society Foundations. Feministas, editam o blog #AgoraÉQueSãoElas.

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Antonia Pellegrino e Manoela Miklos

Não vamos bem

O Brasil caiu no ranking de igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial

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Não vamos bem. Na última terça-feira (18), soubemos de uma má notícia. O Brasil caiu cinco posições no ranking de igualdade de gênero elaborado pelo Fórum Econômico Mundial e divulgado anualmente desde 2006. O ranking é o resultado de uma análise abrangente e rigorosa de diversas variáveis consideradas relevantes para mensurar a igualdade de gênero em 149 países.

Tragicamente, não é a primeira vez que tombamos alguns degraus do ranking de igualdade de gênero. Estamos repetindo a lastimável performance de 2017. No ano passado, o Brasil também caiu cinco pontos no ranking.

Não vamos bem. E não é de hoje. A metodologia desenvolvida pelo Fórum Econômico Mundial sempre foi alvo de críticas. As variáveis escolhidas e os pesos atribuídos são questionados por líderes de países que não ocupam posições confortáveis na lista. Experts também têm questões pertinentes e costumam pontuar fragilidades nos critérios concebidos pela instituição.

Lideranças insatisfeitas e especialistas costumam se preocupar com o fato de países em que mulheres e homens vivem em péssimas condições aparecerem em posições mais cômodas do que países em que mulheres e homens vivem com mais segurança, mais liberdade. O Brasil, por exemplo, pontuou esse ano bem pior que Honduras.

Por que? Porque países em que os gêneros compartilham a mesma realidade amarga acabam pontuando melhor já que a diferença relativa entre mulheres e homens é menor. Em tais territórios, todas e todos têm carências semelhantes, a vida é igualmente sofrida. Por sua vez, países onde as condições de vida não são em média tão dramáticas, a diferença relativa entre mulheres e homens muitas vezes é mais significativa.

As mulheres hondurenhas vivem melhor do que nós, brasileiras? Provavelmente não. Mas as hondurenhas e os hondurenhos padecem na mesma situação precária. Nós, brasileiras, temos uma vida notavelmente pior quando comparada à dos homens brasileiros. E é exatamente isso que o Fórum Social Mundial quer registrar.

O ranking tem problemas? Sim. Mas a desigualdade crescente entre mulheres e homens no Brasil não pode ser atribuída às potenciais debilidades da metodologia do Fórum Econômico Mundial. O que preocupa não é a posição do país em comparação com as demais nações. Arrepia é o Brasil estar indo ladeira abaixo e perdendo posições a cada ano. Não vamos bem e isso fica patente quando nos comparamos como nosso próprio desempenho no passado.

Tem mais. O conselho do Fórum Econômico Mundial indicou, ao divulgar o ranking de 2018, que a igualdade de gênero será um dos principais temas do encontro anual promovido pela instituição. Em janeiro, chefes de Estado do mundo todo se reunirão mais uma vez em Davos e espera-se que a igualdade de gênero tenha status privilegiado na agenda.

A reunião em Davos será também a estreia internacional de Jair Bolsonaro. É sabido que a nova administração desdenha do tema da igualdade de gênero. Não vamos bem, mas o presidente eleito não parece se incomodar. A base de Bolsonaro também é hostil com quem defende os direitos das mulheres. E vale lembrar que o futuro chanceler Ernesto Araújo tem cisma com fóruns multilaterais. Somando tudo isso, terminamos o ano agoniadas.

2019 está aí. Ao pular ondinhas na virada, muitas de nós desejarão ser positivamente surpreendidas por Bolsonaro —ainda que as chances sejam ínfimas. Desejarão também força para resistir caso a surpresa não venha. Porque não vamos bem.

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