Antonio Prata

Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Ir à passeata 'Fora, Bolsonaro' convocada pelo MBL não significa pedir o Mamãe Falei em casamento

Estar no protesto é juntar forças contra um inimigo comum e poderoso

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​Em abril de 2016, às vésperas da escabrosa votação na Câmara, o apoio popular ao impeachment da Dilma beirava os 70%. Dois anos depois, Bolsonaro foi eleito com 55,13% dos votos válidos (57.797.847), contra 44,87% (47.040.906) do Haddad. Certos ou errados, os brasileiros desejaram depor Dilma e eleger Bolsonaro. Como, felizmente, ainda vivemos numa democracia (escrevo na sexta, perdão se a frase caducou até sábado), a única maneira de a minoria do #ELENÃO reverter o desmantelo civilizatório e evitar um golpe é convencendo parte da maioria #ÉBOMJAIRSEACOSTUMANDO a saltar do barco autoritário.

Não parece óbvio? O ponto de partida de todos aqueles que assistem a Star Wars torcendo por Luke Skywalker e não pelo Darth Vader deveria ser trazer bolsominions pro lado iluminado da Força. De 2016 pra cá, no entanto, uma parte bem barulhenta da esquerda se dedica a impedir qualquer um que foi a favor do impeachment ou votou no Bolsonaro a vir para o seu lado. Enquanto deveríamos, como motoristas de Uber, estar dando água e bala a qualquer minion arrependido que topasse dois dedos de prosa, agimos como beques de fazenda dando carrinho por trás e gritando “CHUPA, GADO!”, “BEM-FEITO FASCISTA!”, “AGORA AGUENTA, TIO EUGÉSIO!”.

É uma questão aritmética simples: sem trazermos o tio Eugésio, seguimos minoria. A gente gosta do tio Eugésio? Não. A gente quer convidar o tio Eugésio pra almoçar na nossa casa? Não. A gente apoia o tio Eugésio caso ele perceba que o Bozo é um imbecil e te encaminhe um abaixo-assinado pelo impeachment? Sim! Infelizmente, tem gente que prefere ver a ditadura instaurada a protestar ao lado do tio Eugésio.

No domingo (12) vou à manifestação na Paulista contra o Bolsonaro, convocada pelo MBL, ao lado de todos os tios Eugésios. O MBL foi uma engrenagem importante no impeachment, na eleição do Bolsonaro e na criação do ambiente tóxico e irracional em que se transformou a discussão política brasileira. Atacaram jornalistas, trollaram gente séria, ajudaram a embrulhar o miliciano fã da tortura no papel dourado do “liberalismo”. Ir à passeata convocada pelo MBL sob o lema “Fora, Bolsonaro”, contudo, não é apoiar o Kim Kataguiri para presidente. Não é pedir o Mamãe Falei em casamento. Não é assinar um documento concordando com as ações do MBL desde a sua fundação. É juntar forças contra um inimigo comum e poderoso. A esquerda precisa do MBL, capaz de falar com os órfãos tucanos, os liberais democratas (parece que existem uns 14 ou 15, sim, no Brasil), a Faria Lima, os Jardins, a Hebraica, a Fiesp, a CNI, o agro não ogro. O MBL precisa da esquerda, capaz de trazer movimentos sociais, sindicatos, estudantes, artistas (por saber disso, aliás, o MBL inteligentemente tirou da pauta as críticas ao Lula).

Entendo os que veem nisso o velho e tenebroso conchavo brasileiro, o acochambramento que faz abolição indenizando o senhor de escravos e não os escravizados, anistia torturadores, dá “bolsa empresário” via BNDES. Não se trata, contudo, de formar uma chapa com o MBL ou de dizer que é possível governar o Brasil com Freixo e Joice Hasselmann do mesmo lado: trata-se apenas de ir a uma passeata, com a maior quantidade e variedade de pessoas possível, para impedir um golpe.

Como escreveu aqui o Renato Terra, na sexta: “Depois que a maioria dos brasileiros deixar claro que não quer uma nova ditadura, depois que esse pesadelo autoritário acabar, a gente volta a criticar o MBL. E o MBL volta a criticar a esquerda”. (...) “Pelo direito de discordar do MBL, eu vou à manifestação organizada pelo MBL”.

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