Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino
Descrição de chapéu Coronavírus

E depois da Revolta da Vacina?

Mais de 1 em cada 8 mortes por Covid em 2021 foi no Brasil, graças a um governo negacionista

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Das 3 milhões de vítimas da Covid-19 registradas em 2021 no mundo, mais de 408 mil são brasileiras. Mais de 1 em cada 8 mortes foi observada aqui, entre nós, graças a um governo negacionista que empurrou tratamento precoce no lugar de vacinas para a população. Somos o país que registrou mais vítimas dessa doença evitável este ano, mas provavelmente não por muito tempo. Graças aos imunizantes, nos tornamos "só" o quarto país que que mais registra mortes por Covid por dia.

Nos EUA, as mortes entre os não vacinados continuam acima de 1.500 por dia. No país onde financiaram o desenvolvimento de dois dos imunizantes que temos aqui, menos de dois terços da população se vacinou até agora. Resultado de um movimento antivacina multimilionário e muito bem organizado e uma população que não está acostumada a ter qualquer tipo de atendimento de saúde gratuito. Sem medidas impopulares para aumentar os índices de imunização, passarão por um inverno bem difícil.

Profissional de saúde coloca uma agulha em um frasco com vacina contra Covid
Brasil chegou a mais 150 milhões de pessoas com a 1ª dose da vacina contra a Covid-19 - Rivaldo Gomes/Folhapress

A Rússia, o primeiro país a aprovar uma vacina contra a Covid, tem registrado mais de mil mortes por Covid por dia. Seus números reais devem ser até três vezes maiores, de acordo com as mortes em excesso. Em um misto de desconfiança do governo e falta de confiança em um fármaco posto em uso quando menos de 80 voluntários haviam sido testados, quase dois terços dos russos tomaram sequer uma dose da Sputnik V.

Agora deixamos a terceira posição em óbitos por dia com a Romênia, outro país sem cultura e sem campanhas de vacinação, que tem o segundo pior índice de imunização da Europa. Como o Brasil, a Romênia registra um pouco mais de 300 mortes por dia, mas com uma população mais de dez vezes menor do que a nossa. No final de 2021, a alta mortalidade por Covid, absoluta ou relativa, se tornou um fenômeno de falta de imunização.

Já aqui, no país da Revolta da Vacina, continuamos nos imunizando e postando em redes sociais. Recentemente, passamos de 100 milhões de brasileiros completamente imunizados contra a Covid-19. Enquanto escrevo, vamos atingir a marca de 50% de imunizados. O resultado, colhido diariamente, é que nosso número de mortes continua caindo.

Isso porque depois dessa Revolta em 1904, onde a população do Rio de Janeiro se rebelou contra a obrigatoriedade da vacina da varíola, nós criamos uma excelente cultura de produção e distribuição pública de imunizantes. Ainda em 1904, grande parte da população acabou se protegendo contra varíola, dada a seriedade do surto. E em 1908, quando houve outro surto grave, o Instituto Vacinogênico de São Paulo produziu 1,6 milhão de doses da vacina contra a varíola, o suficiente para imunizar mais da metade da população do estado. Estado que, apesar da população crescente, não passou por um surto tão grave quanto o Rio de Janeiro.

O Instituto funcionou de 1894 a 1924 no então bairro do Cambuci. Era encarregado da produção de vacinas antivariólicas e em 1925 foi incorporado ao Instituto Soroterápico do Butantan. O Instituto Butantan continuou produzindo imunizantes contra varíola até a campanha de 1970, que as tornou desnecessárias. A varíola é uma doença altamente infecciosa, transmitida pelo ar, que produzia imunidade permanente. Mesmo assim, circulou por séculos e matou centenas de milhões de pessoas, sem nunca atingir a imunidade de rebanho. Na década de 1970, ela se tornou a primeira doença infecciosa que nós extinguimos, na base da vacina. Que sigamos contando com esse tipo de solução e com instituições de pesquisa como o Butantã e a Fiocruz para nos livrar da Covid e das próximas pandemias.

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