Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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Becky S. Korich

Adolescentes vão sonâmbulos para a escola

O sistema educacional que tem que se alinhar ao ritmo circadiano dos adolescentes

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Fim do recesso escolar. De um dia para o outro crianças e adolescentes têm que lidar com o jet lag das férias e do início das aulas — algo como a diferença do fuso horário entre o Brasil e o Japão. A saga começa cedo. Às 5h30/6h toca o despertador. Eles pedem só mais cinco minutos — os mesmos minutos que se transformam em horas e que eles desprezam quando enrolam para dormir à noite. O sonho da manhã é interrompido pelo pesadelo da imagem do inspetor, bem desperto, anotando cada minuto de atraso. O início do dia vira uma correria afobada contra o tempo e o sono. Crianças e adolescentes sonados entram mecanicamente na escola. Sonâmbulos, distantes, sem ânimo, sem forças. Já chegam exaustos, cansados de ter que acordar tão cedo todos os dias para aprender.

Aluna dormindo com a cabeça sobre livro numa carteira e os braços esticados para baixo
Wolfgang Eckert por Pixabay

Paradoxalmente, o resultado dessa inevitável privação do sono é o "não aprender". Sem um sono minimamente adequado, o bem-estar se desequilibra, o desempenho acadêmico diminui, o humor e comportamento se alteram e, não poucas vezes, a saúde física e mental fica comprometida. Sobra para os professores, que além de ter que lidar com suas próprias olheiras cansadas, têm que ter a habilidade de ensinar mecânica quântica e a teoria nos números para mentes que ainda nem organizaram suas sinapses cerebrais, e fazer com que olhos que mal estão lubrificados consigam enxergar (e entender) números e letras nos livros.

Se as crianças acordam indispostas, são os pais que dormem irritados, depois de se desdobrarem, em vão, na noite anterior, para fazer os filhos dormirem mais cedo. É uma tarefa inglória, os adolescentes arrumam qualquer pretexto para sair da cama e se negam a pegar no sono mais cedo. Rebeldia? Não: ciência. A mudança no ritmo circadiano (o relógio-mestre do cérebro) e as alterações hormonais que acontecem na puberdade e na adolescência fazem com que naturalmente o sono venha mais tarde. Por essa razão, é o sistema educacional que tem que se alinhar ao ritmo circadiano dos adolescentes, e não o contrário.

O assunto não é de hoje. O psicólogo da Universidade de Stanford Lewis Terman (1877-1956) dedicou parte da sua carreira para pesquisar o melhor sistema de educação. Ele se aprofundou na questão do desempenho escolar e concluiu que o sono é fator determinante ao sucesso intelectual. Mais ainda: segundo ele, tão importante quanto as horas de sono é o horário das aulas estar em harmonia com o ritmo biológico dos alunos.

Os efeitos danosos desse descompasso são preocupantes, especialmente por ser a adolescência a fase mais suscetível a alterações emocionais, como depressão e transtornos de ansiedade. Por conta disso, vários países já adiaram o início das aulas para depois das 8h30.

Não somos uma Finlândia em termos de educação, mas já passou da hora dos gestores da saúde e educação acordarem, e não ignorarem o despertador que já está alertando faz tempo para esse problema.

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