Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Bernardo Guimarães
Descrição de chapéu inflação juros

Fed decide sobre juros num cenário tranquilo

Estados Unidos conseguiram derrubar a inflação com desemprego muito baixo

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Quando escrevi pela última vez sobre a política monetária nos Estados Unidos, em abril deste ano, havia um bocado de incerteza. A inflação beirava os 5% ao ano e estava em queda. Iria para perto de 2% sem grandes mudanças nos juros e no fiscal? Ou se estabilizaria num patamar mais alto?

Desde então, a inflação nos Estados Unidos continuou caindo. A economia segue num ritmo forte e o desemprego, muito baixo. Como mostra a tabela abaixo, a inflação, que passava dos 8% ao ano em setembro de 2022, ficou abaixo de 4% nos últimos meses.

Isso é notícia excelente para países como o Brasil. Economia forte significa maior demanda por nossas exportações. Inflação controlada significa taxas de juros menores por lá e, portanto, mais disposição dos investidores a comprar ativos de outros lugares.

Com o objetivo de conter a inflação, no início de 2022 o banco central norte-americano começou um ciclo de alta nas taxas de juros. Como mostra a figura a seguir, os juros básicos passaram em um ano e meio de quase zero para mais de 5% ao ano.

As taxas de juros longas foram bastante afetadas. Um título público com vencimento em dez anos pagava 2% ao ano em março de 2022. Hoje paga mais de 4% ao ano.

As taxas de juros reais (aquelas que descontam a expectativa de inflação) aumentaram ainda mais, pois a expectativa de inflação para os dez anos seguintes era maior no início de 2022 do que é hoje. Boa parte desse aumento nas taxas de juros reflete a expectativa de uma economia mais forte.

Em suma, juros aumentaram; a inflação caiu bastante; o desemprego continuou muito baixo.

Para um macroeconomista, essa combinação de queda brusca da inflação com desemprego estável e muito baixo é um caso de sucesso da política monetária –tipicamente difícil de conseguir. Assunto para comemorar e estudar.

Quando a inflação chegou perto de 10% em países desenvolvidos, temeu-se que a inflação corrente pudesse contaminar as expectativas de inflação futura, levando a sucessivos aumentos de preços e salários que fariam a inflação se estabilizar em um patamar mais alto.

As expectativas de inflação se mostraram bem ancoradas. Os juros subiram o suficiente para derrubar a inflação sem gerar desemprego.

Agora é sair para o abraço e comemorar?

Quase.

Nesta quarta-feira, dia 20 de setembro, o banco central dos Estados Unidos deve divulgar a taxa de juros para o próximo período e suas projeções para as próximas decisões.

Espera-se que os juros continuem como estão, mas que fique aberta a possibilidade para mais um aumento até o final do ano.

O objetivo é trazer a inflação de volta aos 2% ao ano. A inflação parece estar se estabilizando em um nível um pouco mais alto que esse. Isso levaria a juros por volta do patamar atual por um tempo até a inflação voltar à meta.

Salvo algum grande evento inesperado, o noticiário sobre inflação e política monetária nos Estados Unidos até o fim do ano estará voltado a essa questão.

Quem tem preguiça de ler tanta notícia vai poder pular essa parte do jornal nos próximos meses.

O importante é que a inflação subiu, mas já voltou, ou quase. A política monetária funcionou. O temor de inflação em um patamar um pouco mais alto não se concretizou e a economia norte-americana segue forte.

Como é bom ter expectativas de inflação bem ancoradas!

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