Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Bernardo Guimarães

Pressão política sobre o BC atrapalha

Quando a política fala mais alto, a inflação futura aumenta e fica mais incerta

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A última ata do Copom sinalizou uma preocupação com o aumento da inflação. Uma implicação é que o atual ciclo de redução nas taxas de juros pode se encerrar antes do que se previa.

Bastou isso para que figuras importantes do PT (como Luiz Marinho e Lindbergh Farias) voltassem a criticar a atuação do Banco Central.

A propensão a criticar publicamente autoridades monetárias que aumentam juros para conter inflação é mais um entre os inúmeros exemplos de similaridades entre as chamadas "esquerda" e "direita", que as diferem do chamado "centro".

Por exemplo, Donald Trump difere dos outros presidentes dos Estados Unidos nas últimas décadas por criticar abertamente o Banco Central por causa de altas taxas de juros.

Essas críticas de Trump e Lula à condução da política monetária podem servir a dois objetivos: podem de fato buscar colocar pressão sobre a diretoria do Banco Central; ou podem querer apontar vilões pela situação econômica, estratégia comum de governantes populistas.

Seja como for, pressões de governantes para redução de juros são frequentes na história.

Derrubar os juros hoje tem o potencial de estimular a atividade econômica no presente às custas de um aumento na inflação que terá que ser combatido no futuro. Com isso, governantes de olho no curto prazo têm incentivos para pressionar bancos centrais.

É interessante então saber o que acontece quando questões políticas levam as autoridades monetárias a praticarem juros menores.

Roberto Campos Neto, presidente do BC - Lúcio Távora/Xinhua

Em trabalho recente, Thomas Drechsel estuda pressões políticas sobre o banco central dos Estados Unidos desde 1933. Ele constrói uma base de dados usando as agendas dos presidentes.

O principal exemplo de interferência política no banco central é Richard Nixon, que no segundo semestre de 1971 se encontra 34 vezes com o então chefe do banco central norte-americano, Arthur Burns.

Drechsel mostra que essa pressão política sobre a autoridade monetária leva a aumentos na inflação esperada e na incerteza sobre a inflação futura. O efeito na atividade econômica, se existe, não é suficientemente grande para ser detectado pela análise estatística.

Aqui no Brasil, tivemos uma mudança abrupta na política monetária na reunião do Copom de 31 de agosto de 2011.

O evento ocorreu no primeiro ano dos mandatos de Dilma Rousseff na Presidência do Brasil e de Alexandre Tombini na presidência do Banco Central e foi causado ou por pressão política da presidente ou por uma súbita mudança na forma de pensar do Banco Central.

O Copom havia decidido aumentar os juros nas últimas cinco reuniões, de 10,75% até 12,50% em julho de 2011. Na reunião de agosto, a maioria esperava a manutenção da Selic em 12,50%, mas havia quem apostasse num aumento para 12,75%. O Banco Central, porém, decidiu por uma queda nos juros para 12% ao ano. O ciclo de queda continuaria por mais 12 reuniões até chegar em 7,25% ao ano.

Um artigo recente de sete autores (Marco Bonomo, Carlos Carvalho, Stefano Eusepi, Marina Perrupato, Daniel Abib, João Ayres e Silvia Matos) estuda as consequências desse episódio.

O trabalho mostra que essa mudança abrupta na política monetária elevou a expectativa de inflação futura e aumentou a incerteza sobre a inflação –em linha com as conclusões de Drechsel. As expectativas de inflação ficaram desancoradas, refletindo a perda de credibilidade do Banco Central.

Discussão sobre política monetária é saudável. Eu mesmo já defendi juros mais baixos em páginas de jornais (em 2005 e 2020). Pressão política, porém, atrapalha.

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