Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Deslizes de Paulo Guedes fragilizam blindagem na campanha de Bolsonaro

Incertezas sobre plano de impostos abrem flanco para ataques de rivais ao líder nas pesquisas

Paulo Guedes abriu uma pequena fenda na blindagem que ele mesmo havia aplicado na candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). O economista foi responsável por afastar temores sobre o programa do candidato, mas criou um flanco para ataques de rivais ao gerar dúvidas sobre seus planos de cobrança de impostos e tributos --área sensível numa campanha presidencial.

De garoto-propaganda exibido com orgulho, Guedes foi colocado na geladeira. A pedido de Bolsonaro, cancelou participações em eventos com investidores para proteger a candidatura do presidenciável de polêmicas até a eleição.

A origem do curto-circuito foi a declaração do economista, em reunião reservada, de que pretendia substituir uma série de tributos por uma contribuição sobre movimentações financeiras, semelhante à extinta e impopular CPMF.

A divulgação da proposta obrigou Bolsonaro a desautorizar publicamente qualquer ideia de criação de novos tributos. Voando em céu de brigadeiro, a candidatura do líder nas pesquisas foi levada à defensiva e precisou se explicar repetidamente.

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes antes de almoço com empresários, em agosto de 2018 - Sergio Moraes/Reuters

"Isso é uma distorção. Ele apenas está estudando alternativas. Tudo terá de passar pelo meu crivo", disse Bolsonaro em entrevista à Folha nesta sexta-feira (21). O candidato garantiu que Guedes continua na campanha e creditou o problema à falta de "experiência política" do economista, além de deturpações feitas pela imprensa.

Ao impor uma lei do silêncio a Guedes, a campanha de Bolsonaro perde a oportunidade de esclarecer qual é seu plano e até de discutir publicamente mudanças que poderiam conter eventuais injustiças --como martelam agora seus competidores.

Abafar a polêmica é uma alternativa perigosa, já que esconde planos que Bolsonaro pode ser obrigado a implantar se vencer a eleição. Como se explicará aos eleitores se, de fato, uma nova contribuição nos moldes da CPMF for criada em seu governo?

Quem gostou da polêmica foram seus rivais, que passaram a explorar a sigla infame da CPMF para atacar Bolsonaro. Em pouco mais de 24 horas, Geraldo Alckmin (PSDB) levou à TV um ataque pesado, em que dizia que "pobre vai pagar mais imposto" se o adversário for eleito.

Mal explicado, o plano fica exposto a novos golpes. Em 2014, Marina Silva (hoje na Rede) foi bombardeada ao propor a autonomia do Banco Central. A ideia era complexa, mas Dilma Rousseff (PT) exibiu uma propaganda que dizia que o projeto tiraria comida da mesa dos trabalhadores. Marina despencou nas pesquisas.

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