Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Bruno Boghossian

Gravação expõe figura de um presidente em fuga da polícia

Segundo relato de Milton Ribeiro, preocupação de Bolsonaro era com a própria sobrevivência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Não foi por piedade que Jair Bolsonaro telefonou para Milton Ribeiro no dia 9 de junho. Tudo indica que o presidente sabia que o ex-ministro estava na mira da Polícia Federal, mas a maior preocupação era com os abalos que as investigações de corrupção no MEC poderiam causar no Palácio do Planalto.

"Ele está com pressentimento, novamente, de que eles podem querer atingi-lo através de mim", disse Ribeiro, ao relatar à filha a conversa que tivera com o antigo chefe.

Na melhor das hipóteses, Bolsonaro apenas calculava os danos políticos que uma batida no apartamento do ex-ministro teria sobre seu governo, sua imagem e a bandeira anticorrupção. Na pior, mas não menos realista, ele temia que, durante a ação, os policiais encontrassem algo que pudesse incriminá-lo.

Em qualquer circunstância, o que se tem é a figura de um presidente da República que foge da polícia. Com medo de prejuízos eleitorais ou de uma investigação criminal, Bolsonaro deu ao ex-auxiliar quase duas semanas para arrumar a casa antes de receber a visita dos agentes.

O presidente Jair Bolsonaro com o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, em fevereiro de 2022 - Pedro Ladeira/Folhapress

Depois da prisão de Ribeiro, o presidente não conseguiu esconder o que o afligia. Em entrevista à rádio Itatiaia, Bolsonaro se desvencilhou do ex-ministro, disse que ele deveria responder pelos próprios atos e afirmou que a investigação era um sinal de que não havia interferência na PF. "Porque isso aí vai respingar em mim, obviamente", acrescentou.

O presidente já havia sido manchado meses antes, quando surgiram as suspeitas envolvendo os lobistas que negociavam a liberação de verba da Educação. Gravado uma primeira vez, Ribeiro atribuiu a Bolsonaro um "pedido especial" para privilegiar os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Aliás, se o ex-ministro foi avisado da ameaça de uma operação, é possível que a dupla também tenha sido alertada.

O telefonema pode levar Bolsonaro a responder por interferências na investigação. Ele dificilmente correria esse risco se sua própria sobrevivência não estivesse em jogo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.