Depois de fazer as malas (e guardar algumas joias no bagageiro do avião presidencial) rumo aos EUA, Jair Bolsonaro fez um pronunciamento lamurioso. Naquele 30 de dezembro de 2022, o capitão disse a seus apoiadores que, desde a derrota nas urnas, havia procurado uma "saída para isso daí", mas não conseguiu. "Você tem que ter apoios", justificou.
O golpismo era o idioma oficial dos gabinetes de Brasília naquele período. Propostas para anular a eleição e manter Bolsonaro no poder circulavam em escaninhos de ministros. Pedidos de intervenção militar transitavam por canais que ligavam os quartéis à antessala do presidente.
Esse caldo não se formou sozinho. Em delação à Polícia Federal, o coronel Mauro Cid contou que Bolsonaro discutiu com a cúpula militar um plano para concretizar um golpe de Estado, com documentos elaborados dentro do Palácio do Planalto. As informações foram divulgadas pelo UOL e pelo jornal O Globo.
Bolsonaro, segundo Cid, recebeu das mãos de um assessor direto a minuta de um decreto para prender adversários políticos e convocar novas eleições. O então presidente apresentou a ideia e pediu apoio aos chefes das Forças Armadas e ministros militares. Nessa reunião, o plano golpista teria recebido o respaldo do comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier.
O relato ajuda a identificar o alcance da trama golpista e a participação específica de cada personagem. O ex-auxiliar de Bolsonaro oferece evidências de uma alta conspiração liderada pelo presidente e sustentada por figuras de ponta da caserna para corromper o processo democrático e cometer um crime.
O testemunho de Cid é valioso porque o coronel afirmou que estava presente nas reuniões. Numa espécie de defesa prévia, Bolsonaro já tentou desqualificar os depoimentos do ex-auxiliar com o argumento de que "ele não participava de nada". "Quando você conversa com os quatro estrelas, não fica nenhum tenente-coronel do lado", disse o ex-presidente à colunista Mônica Bergamo.
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