Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu guerra israel-hamas

EUA fazem dois favores a Israel em exibição do próprio poder

Americanos assumem custos no conflito, reivindicam protagonismo e dificultam negociações que não tenham sua mediação

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O governo americano fez dois grandes favores a Israel num momento crítico da ação militar do país sobre Gaza. Primeiro, Joe Biden desembarcou em Tel Aviv e emprestou o peso dos EUA ao relato israelense sobre a explosão em um hospital. "Com base no que vi, parece que foi causada pelo outro lado", apontou.

Longe dali, a diplomacia americana também vetou a resolução proposta pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU que pedia uma pausa no conflito. Os EUA disseram que o texto não manifestava o direito de defesa de Israel. O objetivo era admitir a retaliação e evitar condenações dos ataques a Gaza.

A dobradinha aproxima os americanos da dramática ofensiva israelense em resposta às ações terroristas do Hamas. O governo americano fez o gesto para amortecer os inevitáveis prejuízos diplomáticos de seus parceiros e, em última instância, reforçar a aliança diante de uma iminente invasão terrestre.

O presidente dos EUA, Joe Biden, em conversa com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante visita do americano a Tel Aviv - Evelyn Hockstein/REUTERS

Numa jogada de política externa, voltada em larga medida para o público interno, Biden buscou fazer uma exibição enfática do poder dos EUA. Com isso, assumiu também o custo do eventual agravamento da tragédia humanitária. O americano entendeu, no entanto, que pagaria um preço mais alto se tomasse distância dos israelenses.

Depois de frustrar o esforço na ONU, Biden ainda usou uma cartada para posicionar os EUA como protagonistas. Negociou diretamente com os israelenses e com o governo egípcio a abertura de uma passagem para o envio de ajuda humanitária à população de Gaza. Na prática, mostrou a intenção de esvaziar a proposta do Conselho de Segurança.

A movimentação americana é um lembrete do desequilíbrio que existe nas estruturas multilaterais. A diplomacia brasileira, que preside o Conselho de Segurança em outubro, acreditava numa negociação de paz baseada no "imperativo humanitário". Agora, vê como improvável uma solução que não seja mediada pelos EUA, uma potência próxima demais de um dos lados do conflito.

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