Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Maduro expõe credores a vexame com eleição de faz de conta

Reação de Lula é sinal de que petista não está disposto a suportar desgaste se venezuelano não entregar disputa que ao menos pareça justa

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Por duas décadas, Lula buscou conforto no fato de que, de tempos em tempos, a turma que comanda a Venezuela chama os cidadãos às urnas, conta os votos e declara vitória.

Em 2005, enquanto Hugo Chávez instalava uma máquina que ampliava seu poder e limitava a competição eleitoral, Lula rejeitou as críticas ao bolivariano e afirmou que a Venezuela tinha democracia "em excesso". Dois anos mais tarde, o petista repetiu o argumento: "O que eu sei é que a Venezuela já teve três referendos, três eleições não sei para quê e já teve quatro plebiscitos".

O atual cerco de Nicolás Maduro à oposição tornou a organização periódica de votações uma garantia ainda mais frágil. Mesmo assim, Lula insistiu na premissa de que a Venezuela "tem mais eleições do que o Brasil" e recorreu à justificativa traiçoeira de que as coisas no país vizinho são como são porque "o conceito de democracia é relativo".

Não foi um acidente o envolvimento do governo brasileiro na negociação dos acordos entre chavismo e oposição assinados em Barbados. Lula tem interesse de sobra na manutenção do apoio a Maduro, mas a integridade desse alinhamento passou a ter, como última linha de defesa, a realização de uma eleição que fosse limpa e justa —ou pelo menos conservasse essa aparência.

O regime chavista desfigurou aquela imagem ao restringir a participação da oposição, sob a alegação de que seus integrantes estariam envolvidos numa conspiração contra Maduro. A deformação ficou maior quando a principal candidata do grupo não conseguiu se inscrever para o pleito, num episódio observado em silêncio pelo governo venezuelano.

Numa virada em relação a comunicações mais dóceis, Lula disse que o caso era "grave". Foi um sinal de que o chavista expôs seus credores internacionais a um vexame público e um recado do brasileiro de que não está disposto a suportar o desgaste do respaldo a Maduro se não houver um esforço mínimo para evitar que a votação fique escancarada como uma eleição de faz de conta.

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