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Oposição afirma que não consegue se candidatar para eleições na Venezuela

Prazo para inscrições termina nesta segunda (25), mas site está bloqueado pelo regime de Nicolás Maduro, dizem partidos

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Buenos Aires

O prazo para inscrever-se na disputa pela Presidência da Venezuela termina nesta segunda-feira (25), mas os partidos de oposição ao ditador Nicolás Maduro dizem que não conseguem acessar o site do sistema eleitoral para concluir sua inscrição ao pleito previsto para 28 de julho.

"Fizemos todas as tentativas de inserir os dados e o sistema está completamente fechado para poder entrar digitalmente", disse em entrevista coletiva a professora universitária Corina Yoris, escolhida na última sexta (22) para substituir María Corina Machado —principal líder opositora do país, inabilitada pelo regime.

Corina Yoris, candidata da coalizão opositora na Venezuela, afirma em entrevista coletiva nesta segunda (25) que não está conseguindo se postular - Ronald Penã/AFP

"Esgotamos todos os meios ao nosso alcance para resolver. Tentamos inclusive ir pessoalmente ao CNE [Conselho Nacional Eleitoral] para entregar uma carta onde solicitamos um adiamento das inscrições, mas não pudemos, porque os acessos ao prédio estão tomados militarmente", afirmou Yoris.

O órgão eleitoral, sob controle do regime chavista, não se pronunciou até a publicação deste texto. Já se esperava que houvesse dificuldades para a inscrição da oposição, que acusa o regime de ignorar o Acordo de Barbados, assinado por Maduro em outubro para realizar eleições livres e com observadores externos.

Desde a última quinta (21), quando o prazo foi aberto, registraram-se nove postulantes que se apresentam como oposição, mas são considerados "alacranes", termo local para colaboradores do regime. Já Maduro oficializou sua candidatura nesta segunda, com o apoio de 12 organizações que fazem parte da sua aliança.

"Hoje não vim apenas para inscrever meu nome, mas para escrever um sonho de pátria. Vim convidá-los a continuar sonhando e a continuar transformando nossa realidade em direção ao futuro", disse o ditador, que chegou ao edifício no centro de Caracas em um jipe vermelho e discursou cercado por militantes.

Ele aspira a iniciar um terceiro mandato que o levaria a completar 18 anos no poder, quatro a mais do que somava seu antecessor e padrinho político, Hugo Chávez, ao morrer em 2013.

Com a crise econômica e humanitária que se instalou nos últimos anos, Maduro foi perdendo apoio popular. Diferentes pesquisas de opinião publicadas por meios independentes do país indicam que sua rejeição hoje chega a cerca de 80% da população, por isso ele tenta encurralar os adversários.

Nicolás Maduro chega ao Conselho Nacional Eleitoral nesta segunda (25) para formalizar sua candidatura à reeleição segurando ilustrações de Simón Bolívar, considerado "pai" da independência, e Hugo Chávez, seu antecessor - Federico Parra/AFP

Os dois únicos partidos da coalizão opositora habilitados pelo órgão eleitoral para concorrer, o PUD (Plataforma Unitária) e o UNT (Um Novo Tempo), vêm afirmando desde quinta que não conseguem acessar o sistema e pedem mais três dias de prazo.

Ainda que consigam inscrever Corina Yoris, o órgão eleitoral ainda precisará aprovar sua candidatura, por isso a lista definitiva de candidatos só deve estar disponível depois de abril.

Também por isso, alguns analistas já descartam sua postulação e falam em buscar um candidato mais "palatável" ao chavismo, menos ligado a María Corina Machado. Uma opção seria Manuel Rosales (UNT), que foi candidato presidencial em 2006 e atualmente é governador do estado petrolífero de Zulia.

No entanto, o consenso é que qualquer nome que se candidate deve ter o apoio de Machado, que venceu as eleições primárias da oposição em outubro passado —mesmo declarada inelegível por 15 anos após ser acusada pelo regime de corrupção e de defender uma invasão externa, o que ela nega.

Depois de meses de indefinição, a coalizão decidiu nomear Yoris, 80, que não tem histórico na política, mas participou da comissão que realizou as primárias. Ela é licenciada em filosofia e letras, doutora em história e professora da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab). Há poucos dias, foi indicada à Academia Venezuelana da Língua.

Yoris afirmou ainda à agência Reuters que sua idade não é um obstáculo. "É apenas a força física que determina a capacidade de realizar uma tarefa da magnitude que temos? Acho que temos que enfatizar a capacidade encontrada aqui", disse, apontando e referindo-se a sua cabeça e coração.

PAÍSES EXPRESSAM 'PREOCUPAÇÃO GRAVE'

A horas do encerramento do prazo para as candidaturas, sete países latino-americanos publicaram um comunicado conjunto expressando "grave preocupação com as informações relacionadas a persistentes impedimentos na inscrição de candidatos presidenciais" junto ao conselho eleitoral venezuelano.

No texto, Argentina, Uruguai, Peru, Paraguai, Costa Rica, Equador e Guatemala afirmam que "esta situação, juntamente com as inabilitações prévias que têm sido de domínio público, levanta questionamentos sobre a integridade e transparência do processo eleitoral como um todo".

Os países pedem que a situação "seja reconsiderada para que, ao finalizar o período de inscrições, as cidadãs e cidadãos que atendem aos requisitos estabelecidos na constituição venezuelana possam ser devidamente inscritos", para que os venezuelanos "possam escolher livremente seu próximo governo".

O Brasil não se pronunciou até o momento. Procurado, o Itamaraty disse que o prazo ainda está vigente e que vai aguardar.

Com AFP

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