Bruno Gualano

É professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP. Também é autor de 'Bel, a Experimentadora'

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Bruno Gualano
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Atleta de fim de semana: como vai seu coração?

Ao contrário do que se poderia supor, concentrar exercícios intensos em 1 ou 2 dias pode proteger contra eventos cardiovasculares

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Eventos cardíacos agudos são causas comuns de incapacidade e mortalidade. Segundo o Datasus, internações provocadas por infarto do miocárdio aumentaram mais de 150% entre 2008 e 2022, o que vai na conta do envelhecimento e do estilo de vida pouco saudável da população.

A prática regular de atividade física é um dos melhores escudos contra doenças cardiovasculares. Mas há evidências de que episódios de estresse físico e emocional possam desencadear infartos e paradas cardíacas.

Torcer pela nossa seleção (e o que dizer do nosso Corinthians?), praticar sexo — que, sim, pode ser intenso e emocionante! — e jogar uma pelada de domingo são algumas atividades aparentemente inofensivas, mas que provocam alterações de pressão arterial, batimentos cardíacos, hormônios, viscosidade sanguínea e constrição dos vasos. Um desafio ao bom funcionamento do coração.

Frequentadores correm e caminham em pista no parque do Ibirapuera
Frequentadores correm e caminham em pista no parque do Ibirapuera; estudo sugere que atividades físicas concentradas num único dia também podem ser benéficas ao coração - Rubens Cavallari - 10.dez.22/Folhapress

Sinal de que os peladeiros de fim de semana deveriam pendurar as chuteiras? Não é o que sugere um estudo recente.

Em posse de dados de cerca de 90 mil participantes da coorte UK Biobank (Reino Unido), cientistas associaram eventos cardiovasculares com diferentes padrões de atividade física: (1) 150 minutos ou mais, concentrados em 1 ou 2 dias semanais; (2) 150 minutos ou mais, distribuídos uniformemente ao longo da semana; e (3) menos de 150 minutos por semana.

Em comparação aos inativos do último grupo, praticantes de atividade física "concentrada" ou "distribuída" apresentaram — sem diferenças entre si — menores riscos de fibrilação atrial, infarto miocárdico, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.

Do estudo, conclui-se que o que conta para a saúde cardíaca é a quantidade de movimento acumulado, e não sua forma de distribuição.

Traduzindo para a vida, caro leitor: se te falta tempo de segunda a sexta para se exercitar, faça-o de fim de semana, sem medo de ser feliz.

E quanto aos riscos? Como vimos, eles existem, mas são baixos e superados pelos benefícios, especialmente quando são tomados três cuidados fundamentais:

  1. Caso tenha doenças diagnosticadas ou sintomas cardíacos (dor no peito, falta de ar), ou articulares (dor no joelho), consulte-se com um médico antes de iniciar uma rotina de exercícios intensos. Talvez lhe seja indicado um teste de esforço, no qual eventuais problemas cardíacos podem ser identificados numa situação de estresse.
  2. O "weekend warrior" — como se diz em língua inglesa —, apesar da imponência do termo, está longe de ser um atleta profissional. Por isso, progrida gradualmente na modalidade escolhida, de modo a aprimorar seu condicionamento e prevenir as frequentes lesões ortopédicas que acossam os "guerreiros".
  3. Sabemos que as pessoas inativas são muito mais suscetíveis a eventos cardíacos agudos. Uma maneira simples de preveni-los, portanto, é manter-se fisicamente ativo, para além do dia da pelada.

Ao contrário do que se poderia supor, as novas evidências sugerem que atividades físicas concentradas num único dia também podem ser benéficas ao coração. Assim, ganha tração a tese de que todo movimento conta.

Boas novas para os peladeiros das manhãs de domingo. E para os amantes de sábado à noite.

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