Bruno Gualano

É professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP. Também é autor de 'Bel, a Experimentadora'

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Bruno Gualano
Descrição de chapéu Corpo

O exercício é azul

Contra disfunção erétil, exercício físico seria potente como Viagra

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Um fenômeno econômico, comercial, medicinal e cultural, que provocou uma das maiores revoluções no comportamento sexual. Até mesmo Pondé, colunista desta Folha, rendeu-se as suas proezas: "O Viagra fez mais pela humanidade do que 200 anos de marxismo".

Ok, caro leitor, descontemos o pouco-caso do filósofo com seu par alemão tão afamado quanto abominado por revelar as sujeiras do capitalismo, e fiquemos com seu justo excitamento com a pílula que conquistou o coração de idosos e jovens, doentes e atletas, civis e fardados.

Seguramente, Nietzsche —outro alemão que, por seu turno, se pôs a filosofar sobre os meios ideais de elevação do homem— surpreender-se-ia com a virtude do comprimidinho azulado de elevar tanta gente comum ao status de "Übermensch" (super-homem).

Homens correm em pista
Homens se exercitam no parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo - Danilo Verpa - 3.dez.2020/Folhapress

Mas quem disse que o ilustre azulzinho é o único capaz de dar uma forcinha aos homens? Um trabalho recente revisou resultados de 11 ensaios clínicos controlados que testaram os efeitos do exercício aeróbio (caminhada, corrida, pedalada) sobre a função erétil.

Dos 1.100 homens envolvidos nos estudos, 600 realizaram exercícios aeróbios (30 a 60 minutos por sessão de treino, 3 a 5 vezes por semana), enquanto 500 não receberam nenhum tipo de treinamento físico, servindo como controles.

Em três estudos, os participantes também fizeram musculação em adição aos exercícios aeróbios. A função erétil foi avaliada por uma escala cujo escore varia de 6 a 30, sendo os menores valores indicativos de pior desempenho.

As análises estatísticas revelaram que o exercício físico melhorou, em média, 2,8 pontos na escala de disfunção erétil. E aqui o achado mais significativo: homens com disfunção mais grave foram os que apresentaram as melhores respostas, com o expressivo aumento de 4,9 pontos na referida escala.

Para que o caro leitor tenha uma ideia da potência (ops!) desse achado, consideremos que a reposição de testosterona costuma acrescer 2 pontos nessa escala de disfunção erétil. Já os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 –classe de medicamentos cujos representantes mais célebres são o Cialis (tadalafila), o Levitra (vardenafila) e o próprio Viagra (sildenafila) –conferem ganhos de 4 a 8 pontos. Graças ao tamanho do seu efeito, o exercício bem poderia compor o arsenal terapêutico contra a impotência sexual. Mas como ele age?

O exercício regular previne hipertensão, obesidade e diabetes –condições que aumentam sobremaneira os riscos de disfunção erétil. Melhora também a função dos vasos, produzindo substâncias dilatadoras, como o óxido nítrico, que facilitam a ereção.

E como a disfunção erétil pode prenunciar condições cardiovasculares mais graves (aterosclerose, por exemplo), a prescrição de exercício pode ser bastante conveniente, com foco terapêutico ampliado à saúde geral do paciente.

Amparados pelas recentes evidências que apontam que a prática regular de exercícios se aproxima em eficácia aos medicamentos mais "pop" no combate à disfunção erétil, poderíamos dizer –para o deleite dos chegados a uma tirada de efeito– que o exercício é um azulzinho comportamental.

No entanto, lembremos que uma boa ereção é apenas um entre os diversos benefícios desse tal exercício– que talvez esteja mais para um caleidoscópio de cores.

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