Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Camila Rocha
Descrição de chapéu Governo Lula

O silêncio de Lula

Presidente precisa se pronunciar sobre pânico em escolas

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Passados cem dias do governo Lula, já é possível aprender com erros e acertos de comunicação. Toda vez que se provoca gratuitamente inimigos políticos há um desgaste e um avivamento dos sentimentos que conduziram Bolsonaro ao poder. Por outro lado, atuar de forma republicana e serena acalma os ânimos e contribui para a desradicalização do país.

Lula acertou ao adotar uma postura de estadista após o fatídico 8 de janeiro. Suas ações e palavras foram positivas para a grande maioria dos brasileiros, inclusive para eleitores de Bolsonaro que rejeitaram a barbárie em Brasília. No entanto, perdeu pontos no embate despropositado com Moro.

Palavrões e insultos gratuitos não integram o repertório do bom combate que deve ser travado daqui em diante. O que não significa ignorar por completo investidas da extrema direita.

O presidente Lula em reunião dos 100 dias de governo
O presidente Lula em reunião dos 100 dias de governo - Gabriela Biló/Folhapress

A elegância de ministros como Flávio Dino (Justiça) e Silvio Almeida (Direitos Humanos) representa o melhor exemplo do tipo de postura que os brasileiros admiram em embates políticos.

Após ter navegado com razoável tranquilidade por situações tensas, Dino soube responder da melhor forma aos ataques da oposição que ocorreram durante uma audiência na Câmara dos Deputados.

Para além de lembrar aos bolsonaristas presentes que a imunidade parlamentar não é um "direito absoluto", ao ser falsamente acusado de responder mais de 200 processos na Justiça, o ministro saiu por cima. Altivo, respondeu: "Dizer com base no Jusbrasil que eu respondo a processos se insere no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana".

Ao final da sessão, arrematou: "Não tenho medo do embate: um momento como este, para mim, é um alento na alma". Não é mero acidente que, logo após o episódio, Dino tenha assumido a dianteira no índice de popularidade digital calculado pela Quaest.

Silvio Almeida, por sua vez, também acertou em cheio no tom de sua resposta a Eduardo Bolsonaro. Confrontado pelo deputado com a possibilidade de vir a receber o Prêmio Luiz Gama, Almeida, que foi presidente da entidade que leva o nome do abolicionista, afirmou: "O que quebraria a impessoalidade do prêmio, do ponto de vista jurídico, seria eu me outorgar o Prêmio Luiz Gama. Além de ridículo da minha parte, seria uma quebra da impessoalidade. Já a Medalha Princesa Isabel foi outorgada àqueles que a criaram, a si mesmos. A minha antecessora, no que era o antigo ministério, recebeu a medalha [Damares Alves]. Depois dela o ex-presidente [Jair Bolsonaro] e a ex-primeira-dama [Michelle Bolsonaro]. Em nome da princesa Isabel, a melhor coisa que fizemos pela sua memória foi extinguir essa medalha. E podem ter certeza, isso não vai acontecer. Nem eu e nem o presidente Lula vamos receber o Prêmio Luiz Gama enquanto estivermos no governo".

Por fim, vale frisar que se omitir em momentos tensos do país é sempre o pior caminho. Nesse sentido, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, fez a lição de casa e saiu na frente ao anunciar um plano de ação para as escolas e para tranquilizar a população.

Enquanto isso, o presidente Lula passa a impressão de ser omisso e pouco empático frente ao pânico generalizado oriundo dos ataques em São Paulo e Blumenau. Ainda há tempo de evitar mais um erro e reverter o desgaste.

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