Casos do Acaso

Série em parceria entre a Folha e a Conspiração Filmes. Narrativas enviadas pelos leitores poderão se transformar em episódios audiovisuais criados pela produtora. Veja como participar no fim do texto

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Casos do Acaso

Casei e tive duas filhas com a mulher que foi batizada junto comigo

Três décadas depois da cerimônia, encontrei por acaso a foto em que éramos bebês e me aproximei dela

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Fábio da Silva Camargo

Servidor público federal, mora em Limeira (SP)

Em 19 de novembro de 1972, a cerimônia.

Um dia especial. É assim que pode ser classificado o batizado de um filho, mesmo para aqueles que veem nessa cerimônia algo sem sentido do ponto de vista religioso, simplesmente por não acreditarem em nada. Para outros, aquele dia é visto como sagrado e um ritual especial e importantíssimo. Não importa, dia de batizado precisa ser registrado, com direito a álbum de fotos, roupa especial e festa.

Pensando no ritual e na festa, claro, aqueles dois casais, Antonio e Mariusa de um lado, Luiz Carlos e Diva do outro, estavam ali, em frente ao padre, com seus filhos recém-nascidos, Fábio e Soraia, aguardando acabar o batizado para, enfim, festejar.

Um momento especial como aquele merecia uma roupa especial, comemoração e, o mais importante, um álbum de fotos, que eternizaria aquele momento.

Imagem antiga em preto e branco. Em uma igreja, várias pessoas estão em pé. Ao centro, duas mulheres seguram seus filhos, enquanto um padre os batiza
Batizado de Fábio da Silva Camargo e Soraia, personagens de texto da coluna Casos do Acaso - Fábio da Silva Camargo/Acervo pessoal

Em 1999, o “reencontro”.

Soraia era recém-formada em psicologia e havia acabado de inaugurar uma clínica, juntamente com outras profissionais de saúde. Fábio ainda cursava administração de empresas e trabalhava em um banco. Nunca haviam se encontrado antes, nem sequer em uma balada da cidade que, àquela época, tinha pouco mais de 200 mil habitantes.

Mas o acaso, aqui dando as caras pela segunda vez, se encarregou de colocá-los frente a frente, 27 anos depois daquele chuvoso mês de novembro de 1972. Em um dia em que ele estava com conhecidos em comum, uma das psicólogas da clínica sugeriu que Fábio desse uma carona a Soraia.

Em 2005, a foto.

Devido a algumas cirurgias oftalmológicas agendadas para meados daquele ano, Mariusa necessitava da presença do filho, que a essa altura morava em Brasília. Entre idas e vindas à cidade natal, em uma tarde sem nada para fazer, ele está mexendo em algumas fotos antigas da mãe e encontra uma, em que se viam dois casais ao centro, segurando seus respectivos filhos, ladeados pelos respectivos padrinhos e madrinhas:

“Mãe, de quem é essa foto?”, ele pergunta.

“É a foto do seu batizado”, ela responde.

“Mas quem é essa criança que está na foto comigo?”, ele insiste.

“É a Soraia, a psicóloga com quem eu fiz terapia”, conta a mãe.

“Fez terapia com ela? Como assim? Eu não sabia”, o filho reage.

Uau! Fui batizado com a Soraia? A garota para quem dei carona seis anos atrás? E ainda por cima ela foi psicóloga da minha mãe? Eis um excelente pretexto para uma aproximação. Vou levar essa foto para ela, quem sabe...

E lá foi ele, com a foto nas mãos, ao consultório da Soraia. Chegou apreensivo. Como ela reagiria, daria uma risada irônica? Seria lacônica e nem se importaria ou simplesmente não daria bola? Ou talvez ficasse empolgada e contente por saber daquela história?

Divagando naquele exato momento antes de entrar na clínica, ele chegou e foi prontamente reconhecido. Opa! Bom sinal! Mas ela estava ocupada e ele ficou ali, esperando ser atendido, quando finalmente ela pergunta, olhando para a foto:

“O que você está fazendo com a minha foto?”, Soraia perguntou.

“Sua foto, nada... Essa foto é minha, a sua provavelmente está na sua casa”, Fábio afirmou.

“Mas como assim?”, questionou, incrédula. “É você nessa foto? Eu nem imaginava! Que surpresa!”, disse ela.

“Pois é, você acredita que descobri que fomos batizados no mesmo dia? Fiquei espantado com isso e precisava compartilhar com você. Legal, né?”, questiona ele.

Trocaram números de telefone, e ele voltou para Brasília. Um dia, ele a encontrou por acaso em uma rede social e a adicionou, sem se identificar. Trocaram algumas mensagens até ele finalmente dizer que era o Fábio, aquele da foto do batizado.

Começaram um “namoro virtual” e, em dezembro de 2005, se encontraram na capital federal. Alguns dias depois, voltaram de lá oficialmente namorados.

Namoraram à distância por um tempo, já que ele ainda trabalhava em Brasília e só conseguiria sua transferência para o estado de São Paulo em setembro de 2006.

Em 2007, a união.

Em dezembro de 2007, 35 anos após aquele batizado, aqueles dois “bebês” se casaram no civil em uma cerimônia simples.

Dessa união, em 2009, nasceu a Sofia e, quase sete anos depois, em 2015, chegava a Alice, para completar aquela inusitada e inesperada família.

E foi assim que, graças a uma foto em preto e branco, descoberta por um completo acaso, que essas duas vidas se cruzaram. Continuam morando na mesma cidade, felizes e certos de que uma história tão incrível e inédita como essa só ficaria melhor como um episódio de ficção. E, mesmo assim, alguns ainda ficariam incrédulos.

Ainda bem que havia um fotógrafo para registrar e a imagem para provar!

Para participar da série Casos do Acaso, o leitor deve enviar seu relato para o email casosdoacaso@grupofolha.com.br. Os textos devem ter, no máximo, 5.000 caracteres com espaços e precisam ser inéditos, não podem ter sido publicados em site, blog ou redes sociais. As histórias têm que ser reais e o autor não deve utilizar pseudônimo ou criar fatos ou personagens fictícios.

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