Marcos do Val diz à PF que Bolsonaro não mostrou contrariedade com plano golpista

Senador relata que ex-presidente também não negou proposta de Daniel Silveira para que gravasse ministro do STF

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Brasília

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse em depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (2) que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) não demonstrou contrariedade ao ouvir, em dezembro, um suposto plano do ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) de tentar reverter o resultado das eleições.

Do Val, que na madrugada desta quinta chegou a anunciar que Bolsonaro havia tentado coagi-lo a "dar um golpe de Estado junto com ele", fez à PF um relato sobre como Silveira teria lhe pedido para gravar ilegalmente o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

O senador Marcos Do Val (Podemos-CE) no elevador do Senado Federal nesta quinta-feira - Marcos do Val-2.fev.23/Folhapress

O senador afirmou que o ex-presidente ficou calado durante toda a conversa e não negou o plano nem mostrou contrariedade. Nesta versão, Do Val relatou que, ao final do encontro, disse que precisava pensar sobre a proposta, e que Bolsonaro respondeu que o aguardaria.

Do Val disse ainda que teve a impressão de que Bolsonaro não sabia do assunto, e que Silveira parecia querer obter o consentimento dos dois. O senador afirmou que achava que a conversa estava sendo gravada.

Também segundo o relato do senador, Silveira lhe perguntou na ocasião se ele cumpriria uma missão importantíssima: gravar Moraes e induzi-lo a falar algo que ultrapassasse as quatro linhas da Constituição —bordão muito usado por Bolsonaro.

O senador repetiu à Polícia Federal grande parte do relato feito aos meios de comunicação nesta quinta —ao longo do dia, mudou de versão e passou a tentar isentar o ex-presidente de participação no suposto plano.

À Folha o senador disse que a resposta do ex-presidente ao final do encontro foi "Vamos pensar". Em entrevista à GloboNews, afirmou que o então presidente falou que esperava a resposta dele sobre participar ou não do plano.

O senador declarou que foi procurado por Silveira em 7 de dezembro e que o então deputado o colocou em contato com Bolsonaro. Eles teriam combinado uma reunião, segundo Silveira, no dia 9 de dezembro.

À PF Do Val afirmou que entrou em contato com Moraes no dia 8 para avisar que tinha sido procurado por Silveira e perguntar se deveria ir ao encontro. O senador afirmou que achou melhor fazer isso porque o ex-deputado, preso nesta quinta, é investigado.

Segundo o depoimento à Polícia Federal, ao questionar o ministro do Supremo se deveria se encontrar com Bolsonaro, Do Val diz ter ouvido a resposta de que "informação é sempre importante".

O senador afirmou que mandou mensagem para o ministro do STF depois do episódio para relatar que a reunião tinha sido esdrúxula. Os dois voltaram a se encontrar pessoalmente, segundo ele, e não houve nenhum pedido para que os fatos fossem formalizados.

Em entrevista à revista Veja, Do Val chegou a dizer que Bolsonaro contou que o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) cuidariam do suporte técnico, fornecendo equipamentos de espionagem.

Ministro-chefe do Gabinete Segurança Institucional durante o governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno diz ser mentira qualquer envolvimento de sua pasta ou da Abin no plano golpista denunciado.

A Abin também divulgou nota negando envolvimento "em qualquer iniciativa relacionada à possibilidade de gravação de conversas de ministro do Supremo Tribunal Federal".

Ainda na quinta-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, afirmou que não vê crime na reunião entre seu pai e Daniel Silveira. "A situação que foi narrada não configura nenhuma espécie de crime. Mas que todos os esclarecimentos sejam feitos para que não fiquem narrativas em cima de narrativas no intuito de superar os fatos."

Posteriormente, Flávio Bolsonaro disse que "nunca houve qualquer tentativa de golpe" e que o mandato presidencial "se pautou pelo estrito respeito à legislação e às instituições, mesmo quando setores da mídia tentaram induzir o público a uma imagem diferente".

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