Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu TSE

Tentou o golpe, saiu da urna

A inelegibilidade de Bolsonaro foi uma vitória gigante do Brasil

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Na última sexta-feira (30), o Tribunal Superior Eleitoral tirou de Jair Bolsonaro o direito de tentar destruir a democracia brasileira por dentro até 2030. Se ele quiser tentar golpe até lá, que o faça sem cargo público.

A inelegibilidade de Bolsonaro foi uma vitória gigante do Brasil. Só foi possível porque a oposição venceu a eleição do ano passado, e porque os militares não toparam arriscar golpe por um derrotado. Ou vocês acham que o julgamento de sexta-feira teria acontecido se Bolsonaro ainda estivesse no Planalto?

O ex-presidente Jair Bolsonaro em coletiva de imprensa após retornar de Belo Horizonte, no aeroporto de Brasília - Gabriela Biló -20.jun.2023/Folhapress

É óbvio que não. Até sair do poder, Jair sofreu o número exato de zero sanções por seus crimes. Subornou o Congresso com orçamento secreto, a elite econômica com Paulo Guedes, os militares com cargos no governo. Quebrou o Brasil para comprar sua impunidade, e perdeu-a quando não teve mais orçamento, políticas econômicas ou cargos com que subornar.

Se tivesse vencido as eleições, Bolsonaro teria dobrado sua aposta golpista. Metade dos ministros do TSE presentes na sexta-feira já estaria presa, como também o estariam quaisquer membros do Judiciário que tentassem obrigar os bolsonaristas a cumprirem a lei. Os militares golpistas teriam recebido das urnas uma dose extra de coragem.

A frágil frente ampla que elegeu Lula já teria se dissolvido: os centristas que apoiaram a democracia no parlamento, na mídia e na elite teriam sido perseguidos pelos adesistas. Em caso de escalada golpista, a estratégia racional para a esquerda teria sido a radicalização, antes que qualquer resistência se tornasse impossível. Eu teria que pedir desculpas à esquerda por ter recomendado moderação esses anos todos.

As instituições foram fortes o suficiente para sobreviverem até a eleição, mas não teriam durado seis meses se menos de 1% do eleitorado tivesse votado diferente. As instituições conseguiram garantir o direito de voto aos brasileiros em 2022. Daí em diante, o Brasil é que protegeu suas instituições contra Jair Bolsonaro, derrotando-o na eleição presidencial.

Jair Bolsonaro tentou roubar a eleição de 2022 de todas as formas possíveis e tentou um golpe quando perdeu. Aparelhou as instituições sem qualquer limite. Mudou a Constituição três meses antes da eleição para poder gastar mais dinheiro. No dia da votação, seu governo colocou a polícia rodoviária na rua para impedir que os nordestinos votassem. Na véspera de Natal de 2022, três de seus seguidores, um dos quais com cargo comissionado em seu governo, tentaram explodir o aeroporto de Brasília.

E depois de mandar todo mundo pro golpe, Jair fugiu pra Disney.

Não, o sujeito que ameaçou o juiz de morte e tentou convencer a PM a espancar o time adversário não deve ter outra chance de disputar o campeonato.

Então é isso, Jair. Você foi condenado, está inelegível, e agora viverá sob guarda compartilhada da Michelle, do Valdemar e do PCO. Mas essa não é a hora de jogar em você toda nossa revolta com as mortes da pandemia, as perseguições à imprensa, o aparelhamento das instituições, as agressões contra os indígenas, as pessoas reduzidas a brigar por osso na porta do supermercado ou a tentativa de instaurar uma ditadura que nos teria roubado todo o dinheiro e todos os direitos.

A hora de fazer isso vai ser no dia da prisão.

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