Eleitores jovens se dizem cansados de seus líderes mais velhos nos EUA

Pessoas mais novas são as que provavelmente não votarão em Joe Biden ou Donald Trump

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Maya King Jonathan Weisman
Nova York | The New York Times

Alexandra Chadwick foi às urnas em 2020 com o objetivo único de tirar Donald Trump da Presidência. Aos 22 anos, era eleitora de primeira viagem. Ela enxergava Joe Biden mais como uma proteção que como uma figura política inspiradora –alguém que poderia afastar as ameaças ao direito ao aborto, ao controle de armas e à política climática.

Dois anos mais tarde, com a Suprema Corte tendo erodido as proteções federais nessas três áreas, Chadwick considera que faltam a Joe Biden e a outros líderes democratas imaginação e garra para resistir. Ela aponta para um abismo de gerações, algo ao qual no passado não deu importância maior, mas que agora lhe parece cavernoso.

"Como a pessoa pode liderar o país corretamente se sua cabeça ainda está atrelada a 50, 60 ou 70 anos atrás?", diz a moradora da Califórnia, falando dos muitos líderes septuagenários de seu partido. "Não é a mesma coisa, as pessoas não são iguais, e as ideias antigas dessa pessoa já não funcionam tão bem."

O presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington
O presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington - Kevin Lamarque - 12.jul.22/Reuters

Uma sondagem The New York Times/Siena College constatou que apenas 1% dos americanos de 18 a 29 anos aprova decididamente o modo como Biden está realizando seu trabalho. E 94% dos democratas com menos de 30 anos disseram que gostariam que outro candidato concorresse à Presidência dentro de dois anos. De todas as faixas etárias, são os eleitores jovens que mais provavelmente dirão que não votarão nem em Biden nem em Trump no caso de novo embate entre eles em 2024.

Esses números são um aviso claro para os democratas no momento em que se esforçam para evitar uma derrota pesada nas chamadas midterms, em novembro. Os jovens, que por muito tempo foram a parte menos constante da coalizão democrata, fizeram marchas para reivindicar controle de armas, participaram de protestos contra Trump e ajudaram a alimentar uma onda democrata nas midterms de 2018. Eles ainda tomam o partido em questões que estão ganhando importância crescente.

Mas hoje, quatro anos mais tarde, muitos se sentem alienados e decepcionados; segundo a sondagem, só 32% dizem que é quase certo que irão votar em novembro. Quase 50% acham que o voto não fez diferença.

Entrevistas com esses eleitores revelam tensões geracionais que motivam a frustração. Chegando à maioridade em meio a tensões raciais, conflitos políticos, inflação alta e uma pandemia, eles buscaram ajuda de políticos que têm mais de três vezes sua idade.

Esses líderes falam muito sobre defender instituições e restaurar normas, mas os jovens se dizem mais interessados em resultados. Muitos expressaram o desejo de ver transformações mais amplas, como um terceiro partido viável e uma nova safra de líderes. Disseram que, em vez de um retorno ao que funcionou no passado, querem ação inovadora para enfrentar os problemas que vão herdar.

"Cada membro do Congresso com certeza já viveu momentos traumáticos em sua vida e passou por caos no país", diz John Della Volpe, que, como diretor de pesquisas do Harvard Kennedy School Institute of Politics, estuda a opinião de jovens. "Mas cada um também já viu os EUA em seus melhores momentos. Nas horas em que todos nos unimos. Isso é algo que as pessoas da geração Z não tiveram."

Com 79 anos, Biden é o presidente mais velho na história dos EUA e apenas um de vários líderes do Partido Democrata com quase 80 anos ou mais. Nancy Pelosi, presidente da Câmara, tem 82. O líder da maioria na Câmara, Steny Hoier, 83. Com 71 anos, o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, é o caçula da turma. Trump tem 76.

Numa reprise da eleição de 2020, Biden lideraria entre os eleitores jovens, com entre 30% e 38%, mas 22% dos eleitores na faixa dos 18 aos 29 anos, de longe a maior parcela de qualquer faixa etária, disseram que não votarão se tiverem que optar entre os mesmos dois candidatos.

Denange Sanchez tem 20 anos e estuda no Eastern Florida State College, de Palm Bay. Ela diz que Biden só tem cumprido suas promessas pela metade.

Sua mãe é dona de uma firma de faxina doméstica e faz a maior parte das faxinas ela própria; Denange ajuda quando pode. Sua família inteira –incluindo a mãe, que tem problemas cardíacos— já teve Covid e não tem convênio médico. Mesmo quando estava doente, conta Sanchez, sua mãe ficava acordada até tarde para preparar remédios caseiros.

"Disseram que íamos derrotar esse vírus. Biden fez todas essas promessas. Agora ninguém mais está levando a pandemia a sério, mas ela ainda está em toda parte. É frustrante." Sanchez, que está estudando medicina, também inclui o perdão da dívida contraída para pagar a faculdade em sua lista de promessas que Biden fez e não cumpriu.

Os eleitores de meia-idade constantemente apontam a economia como uma de suas preocupações, mas ela é apenas uma das coisas que preocupam os mais jovens; está mais ou menos empatada com o aborto, a política de armas e o estado da democracia.

Isso cria um problema para candidatos democratas em distritos mais pobres, muitos dos quais dizem que deveriam concentrar sua mensagem eleitoral quase apenas sobre a economia. Mas, com isso, é possível que corram o risco de não mobilizar os mais jovens.

Tate Sutter, 21, sente essa desconexão. Natural de Auburn, Califórnia, estuda no Vermont. Ele conta que assistiu à queima de fogos do 4 de Julho e ficou preocupado, ciente que uma nova temporada de incêndios está começando, enquanto uma ação federal para combater o aquecimento global está parada no Congresso. Dito e feito, comentou: ele viu um incêndio na mata ganhando força nas montanhas ao sul.

"A questão climática é muito importante em minha visão política", diz, manifestando desânimo pelo fato de democratas não falarem mais sobre isso. "É altamente frustrante."

Depois de passar anos sentindo que os políticos não falam com pessoas como ele, Juan Flores, 23, diz que agora volta sua atenção a iniciativas locais decididas pelo voto, coisas envolvendo questões como habitação, que, para ele, provavelmente terão impacto maior sobre sua vida.

Flores fez um curso de análise de dados, mas é motorista de entregas na Califórnia, onde imóveis residenciais custam em média bem acima de US$ 1 milhão (R$ 5,45 milhões), de modo que é difícil ou mesmo impossível as pessoas viverem com apenas uma fonte de renda na família.

"Acho que muitos políticos cresceram em famílias de alto poder aquisitivo", afirma. "A maioria deles não tem uma compreensão real dos problemas enfrentados pela maioria dos americanos hoje em dia."

A pesquisa NYT/Siena constatou que 46% dos eleitores jovens preferem que os democratas tenham controle do Congresso, enquanto 28% querem que o controle passe aos republicanos. Mais de um em cada quatro disseram não saber ou se negaram a dizer que partido preferiam.

Ivan Chavez, 25, do Novo México, conta que se identifica como independente em parte porque nenhum dos dois grandes partidos apresentou argumentos convincentes às pessoas de sua idade. Ele se preocupa com os massacres a tiros, a crise de saúde mental entre jovens e a mudança climática.

E gostaria que candidatos de outros partidos, não republicanos nem democratas, recebessem mais atenção. Ele pretende votar em novembro, mas ainda não sabe em quem. "Os democratas estão com medo dos republicanos e vice-versa", diz. "Eles não sabem para onde ir."

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.