Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Claudia Tajes
Descrição de chapéu

Brasil do papel higiênico como objeto de desejo merece Bolsonaro

Só pode ser um piriri tardio, alguma coisa estragada que vem das urnas de 2018

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O Brasil da ignorância merece Bolsonaro: o Brasil do WhatsApp, que acredita que Nostradamus previu a pandemia em 1555. O país que diz que vacina de cachorro imuniza humanos, que Bill Gates tem a patente do coronavírus, que fazer gargarejo com água morna, sal e vinagre elimina a infecção e que ninguém precisa se preocupar com a pandemia global, pois nosso país é quente e o vírus não resiste ao calor. Passe adiante.

Ilustração abstrata mostra um circulo vermelho irradiando uma luz amarela
Ilustração de Cynthia Bonacossa para coluna de Claudia Tajes publicada nesta segunda-feira, 23 de março de 2020 - Cynthia Bonacossa/Folhapress

O Brasil da ganância merece Bolsonaro: o Brasil do bispo biliardário que afirma que o vírus é uma tática de Satanás e da mídia bandida para enfraquecer a fé das ovelhas. 
O país do pastor que se recusa a interromper os cultos, dos fiéis que seguem lotando as igrejas todos os dias. Para cada um que cruza a porta do templo, um plim a mais na caixa registradora. Amém.

O Brasil que não é solidário merece Bolsonaro: o Brasil do primeiro casal diagnosticado por transmissão local de coronavírus no Rio de Janeiro e que mantém a empregada doméstica trabalhando de uniforme, máscara e luvas. O país do mesmo casal, que não vai impedir que a funcionária contaminada leve o vírus para a comunidade onde mora —se for a Rocinha, cerca de 100 mil pessoas moram lá, segundo dados de 2017, e ninguém precisa ser do IBGE para saber que esse número é muito, mas muito maior atualmente.

O Brasil mesquinho merece Bolsonaro: o Brasil do cidadão de bem que dá plantão na frente da farmácia para aumentar seu estoque de álcool em gel. O país onde sobram apenas os cartazes de “duas unidades por cliente”, meramente decorativos, colados na parede, chamariz para quem passa perguntar com um fio de esperança na voz: “tem álcool em gel?”, ao que o atendente pela milésima vez responde: “não tem, acabou”.

O Brasil que merece Bolsonaro é o Brasil do papel higiênico como objeto de desejo, de senhores grisalhos se estapeando por pacotes de 24 rolos de Neve, amigas rompendo por 16 Dualettes pelo preço de 15. Só pode ser um piriri tardio, alguma coisa estragada que vem das urnas de 2018.

O Brasil que merece Bolsonaro tem suas necessidades. É algo tão grave que todo e qualquer rolo de papel higiênico desapareceu, mesmo aqueles do tipo lixa, até então encontrado só nos toaletes mais imundos das espeluncas.

O Brasil merece um destino melhor.

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