Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Hoje em dia, é como se todo dia fosse a Festa do Ridículo

Falta um charme a Brasília para render não fofocas grosseiras, mas comentários de coluna social sobre roupas, cabelos, affairs

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Foi sucesso há alguns anos, a tal Festa do Ridículo. Ao menos pelas bandas do sul, ninguém passou pela juventude ou pelos primórdios da vida adulta sem ter ido a uma. Traje exigido: ridículo, de qualquer inspiração. Não chegava a ser fantasia, era mais misturar padrões e cores que não conversassem, ir de paletó e calção ou com uma roupa quatro números maior. Se você surgir em uma festa vestido assim hoje, é hipster.

Ilustração
Cynthia Bonacossa/Folhapress

A Festa do Ridículo acontecia sempre longe, em sítios ou zonas periféricas em que a maioria dos festeiros jamais pisaria se não fosse pela, digamos, diversão. Não sei se ainda existem, talvez tenham se tornado ingênuas demais. Sem falar da concorrência insuperável com a realidade. Agora, é como se todo dia fosse a Festa do Ridículo.

Os conscientes aconselham “não falem, não comentem, não postem, não deem espaço para as ridicularidades, é tudo um plano para nos distrair do que realmente importa”. E vai dizer que não importa um ridículo, a mando de outro ridículo, aplaudido por ridículos, fazendo uma pseudoperformance ridícula em um lugar que não deveria ser ridículo? Infelizmente, ser ridículo é oficial.

Fato é que, com tudo isso, Brasília anda mais para baixo que o PIB. Falta um charme para render não fofocas grosseiras, mas comentários de coluna social sobre roupas, cabelos, affairs. E se o governo promovesse uma Festa do Ridículo nos salões do Palácio que, atualmente, nem aqueles jantares que o Temer fazia para trocar votos sediam? Só para abrir as cortinas e tirar um pouco do mofo.

Militares seriam dispensados do traje porque o respeito é bonito e conserva os dentes. Só perigava a festa parecer um ambiente de caserna, tantas as fardas presentes. Traje econômico do ministro Weintraub: as palavras que ele escreve errado coladas no terno, bem original.

O ridículo da Virgínia, com seu séquito de ridículos terraplanistas, formaria não uma roda, mas um quadrado de conversas inteligentíssimas. Uma garrafa PET pendurada no pescoço e pronto, olha o ministro do Meio Ambiente abafando. E o 03 com sua pilha de livros, o iletrado mais culto da corte. Ao anfitrião, ah, ao anfitrião não faltariam escolhas. Brasília já viu de tudo, mas uma Festa do Ridículo só poderia acontecer à imagem e semelhança dele. Para não atrasar diante de tantas possibilidades, a sugestão é que vá nu.

O ridículo está nu.

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