Uma formação que deveria ser obrigatória para todo candidato a presidente: graduação em dona de casa. Qualquer dona de casa, seja do tempo de nossas avós, em regime de dedicação exclusiva, ou de hoje, em regime de tudo-ao-mesmo-tempo-agora.
Já se disse que administrar uma nação não é muito diferente de administrar um lar. Trata-se de fazer as contas fecharem e de manter o ambiente minimamente tranquilo. Quem achou fácil é porque nunca viveu a experiência —não a da presidência, a de dona de casa.
À dona de casa sempre coube ser o centro do delicado país que cada residência é. Equilibrar o que se tem para gastar com o que se precisa pagar é função intransferível dela. Tarefa dura, controlar as despesas para chegar ao fim do mês com feijão na mesa. Mas sem sexismo, existem donos de casa competentíssimos.
Dentro dessa ingênua analogia, não fosse por todos os seus incontáveis deméritos para o cargo, Jair Bolsonaro também não poderia ser presidente pela péssima dona de casa que é. A pior do mundo, talvez. É só ver a listinha de compras recente que inundou o Brasil de leite condensado.
Todo mundo já entendeu que as quantidades astronômicas se destinavam a abastecer o Exército e outros órgãos federais. Feitas as contas, o que fica no Planalto nem é tanto assim, alguns milhares de reais em leite condensado. Quem nunca? A lata está mesmo pela hora da morte.
Acredito que seja lata, e não embalagem cartonada Tetra Pak, pelo formato mais anatômico para enfiar naquele lugar da imprensa, como sugeriu nosso estadista. Ele não pode ver um objeto cilíndrico sem ter certas ideias.
Se uma dona de casa pagasse o que Bolsonaro pagou pelo leite condensado, ainda mais comprando em uma quantidade daquelas, diriam que ela saiu da casa. Mais de R$ 6 a unidade. Se é licitação, o valor pago não deveria ser o mais baixo?
Pior mesmo, só o que o presidente gastou em emendas nos dias que antecederam as eleições na Câmara e no Senado. Foram R$ 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores posarem de bacanas em seus redutos eleitorais.
Dinheiro que seria mais bem aproveitado na compra de vacinas, por exemplo, não fosse a prioridade número um do governo: salvar o próprio pescoço. Uma providência mais urgente que salvar as vidas dos brasileiros.
Entre tantos itens e valores de fazer corar uma dona de casa mais tradicional, pelo menos um gasto pareceu razoável. Modesto, até.
Comprar R$ 1 milhão em alfafa é quase uma ninharia quando se sabe a quantidade de quadrúpedes a serem alimentados. São muitos.
Não confundir com aqueles sem máscara.
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