​O desenvolvimento econômico e social das cidades é afetado por fatores diversos, como nível de atividades industriais ou de serviços, capacidade de geração de empregos e renda, existência de serviços públicos de qualidade e segurança.

Contudo, a performance dos núcleos urbanos pode ser fortemente afetada por suas características físicas.

O grau de compacidade é uma das características físicas importantes das cidades. A literatura urbanística tem estimulado os municípios a promoverem formas urbanas mais compactas, por estarem associadas a efeitos positivos, como aumento de produtividade em razão das economias de aglomeração, otimização do custo de transporte público e menor pegada ecológica devido ao menor consumo de energia e espaço urbano.

Por outro lado, as vantagens da compacidade urbana podem vir acompanhadas por efeitos negativos e, portanto, é necessário um aprofundamento no estudo do comportamento da cidade frente a esse modelo de desenvolvimento para possibilitar uma avaliação mais precisa da forma como ele deve ser utilizado.

O trabalho “Demystifying compact urban growth” (Desmistificando o crescimento urbano compacto), publicado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), avaliou mais de 300 estudos acadêmicos sobre compacidade, a fim de ampliar a compreensão de seus efeitos sobre 15 diferentes dimensões da vida urbana.

Elas se dividiram entre dimensões econômicas (produtividade, inovação, valor do espaço, eficiência de prestação de serviços públicos, fluxo de tráfego e acesso a empregos); sociais (equidade social, segurança, saúde, bem-estar e acesso aos serviços e comodidades); e ambientais (poluição, opções de transporte sustentável, áreas verdes e eficiência energética).

De forma geral, 69% dos estudos aliam efeitos positivos à forma urbana compacta. As evidências sugerem que o aumento da compacidade tem consequências favoráveis na produtividade, na inovação, no acesso a serviços e comodidades de uma cidade, na eficiência da prestação de serviços públicos, na equidade social, na segurança e na eficiência energética.

Cerca de 70% dos estudos encontram efeitos positivos oriundos da densidade econômica, que se refere ao número de pessoas vivendo ou trabalhando em uma área. Uma parte dos estudos ainda atribui efeitos benéficos ao uso misto do solo (58%) e à densidade do ambiente construído (56%).

Os estudos, na média, mostraram que os efeitos positivos da compacidade ocorrem em 11 das 15 dimensões avaliadas, tendo apresentado menor controvérsia os efeitos benéficos sobre produtividade e inovação.

Os maiores benefícios da densidade econômica surgem da melhoria da produtividade e da acessibilidade. O aumento da densidade em 10% equivale ao ganho de aproximadamente US$ 71 (R$ 266) por pessoa por ano devido ao aumento da produtividade, de US$ 62 (R$ 232) em razão das melhorias de acessibilidade ao trabalho, e de US$ 49 (R$ 183) em virtude de um melhor acesso aos serviços públicos.

No entanto, os efeitos não são somente positivos. A literatura sugere que a compacidade pode ter impactos negativos e os custos de uma maior densidade econômica podem estar relacionados a problemas com mobilidade e saúde, que afetam o bem-estar das pessoas.

O aumento de 10% na densidade econômica média pode resultar em maiores índices de congestionamentos, que custam US$ 35 (R$ 131) por pessoa por ano. Os efeitos negativos para a saúde representam US$ 32 (R$ 120) anuais, e a resultante piora no bem-estar equivale a US$ 26 (R$ 97).

Essas descobertas sugerem a necessidade de políticas adequadas de investimento em transporte público de massa, ciclovias, estruturas para pedestres, lazer, saúde e educação, entre outras, que possam amplificar os benefícios da compacidade e, ao mesmo tempo, mitigar eventuais efeitos colaterais inconvenientes.