Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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A importância do planejamento urbano com viés ecológico

Se cidades não forem pensadas, seu processo de desenvolvimento pode ser uma ameaça à natureza

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Hoje, as cidades são centros de intercâmbio social e econômico, além de âncoras do sistema de mutações, pelas quais passam a humanidade. O processo de desenvolvimento e transformação urbana pode representar ameaça à biodiversidade e à natureza. Dessa forma, salvaguardar o bem-estar das pessoas e dos ambientes naturais é função daqueles que pensam as cidades.

Por outro lado, assim como frequentemente o planejamento urbano ocorre sem muita consideração à biodiversidade, da mesma forma, o planejamento ambiental muitas vezes ignora a realidade da vida nas cidades. A busca pelo equilíbrio deve, portanto, ser um objetivo de médio e longo prazo.

É importante notar que a preservação da biodiversidade está intimamente ligada aos chamados serviços do ecossistema urbano, dentre eles, melhoria da qualidade do ar, por meio do sequestro de dióxido de carbono; aumento da qualidade, oferta e distribuição de água nos aquíferos e reservatórios, pela facilitação da infiltração de água no solo; redução dos riscos de escorregamento e erosão; auxílio na regulação do clima; promoção do conforto térmico em função principalmente da vegetação, que proporciona temperaturas mais amenas e maior umidade do ar.

O planejamento das cidades deve abordar a isonomia da distribuição dos ecossistemas urbanos e, dessa forma, melhorar a partilha de seus efeitos. A combinação de planejamento e conservação da natureza produz uma poderosa visão de sustentabilidade equitativa para as cidades do futuro.

Para entender como o processo de planejamento urbano pode ser usado para tratar da conservação da biodiversidade e do fornecimento de serviços ecossistêmicos, é necessário identificar quais são os atributos da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos verdadeiramente relevantes para o planejamento urbano. Além disso, identificar quais desses atributos as cidades podem incluir em seus planos e como as diferentes cidades, de acordo com suas características específicas, podem usar esses atributos.

Pesquisadores de universidades americanas estudaram como as cidades lidam com o planejamento urbano relacionado à biodiversidade e aos serviços ecossistêmicos, avaliando 40 cidades em 25 países, e procurando compreender como diferentes cidades com ampla variedade de aspectos ecológicos, políticos e contextos econômicos incorporaram biodiversidade e serviços ecossistêmicos no planejamento.

Os atributos da biodiversidade mais presentes no planejamento urbano das cidades, segundo esses estudos, envolvem a educação da população no que diz respeito à biodiversidade, a mitigação dos efeitos das ilhas de calor, a melhoria da qualidade da água, e o sequestro de carbono. A pesquisa aponta que as cidades com maior número de atributos relacionados à biodiversidade em seus planos urbanos são Washington, Baltimore, Londres, Cidade do México, Nagoya, Seul e Sheffield. As cidades com menor número de atributos são Hong Kong, Cidade de Ho Chi Minh, Monróvia e Iquitos.

Os resultados da pesquisam mostram que mais de 80% dos planos estudados incorporaram pelo menos um objetivo para melhorar os serviços ecossistêmicos. A maioria dos planos também incluiu alguma menção de compromisso com a implementação de uma ou mais metas para aumentar a biodiversidade e, em particular, metas para aumentar ou melhorar a quantidade ou a qualidade de habitats específicos. Alvos mensuráveis para biodiversidade e serviços ecossistêmicos ocorreram em um menor número de planos.

Relatório do Banco Mundial publicado em setembro de 2021, em associação com a "Global Platform for Sustainable Cities", concluiu que uma forma importante para os líderes enfrentarem os crescentes desafios da vida nas cidades é trazer a biodiversidade e a natureza para os projetos urbanos, por meio do planejamento ecológico. Não nos resta alternativa senão reconhecer que, no âmbito do planejamento urbano, as cidades dependem da biodiversidade, e a biodiversidade depende das cidades.

Dessa forma, o planejamento com viés ecológico não apenas realça as ligações entre urbanização e biodiversidade, mas também deve ajudar a integrar esse entendimento às estratégias de investimento.

Entretanto, mudanças culturais serão necessárias para impulsionar, de forma definitiva, a utilização, de maneira equilibrada, dos conceitos de biodiversidade e de serviços sistêmicos no planejamento das cidades.

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