Colo de Mãe

Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

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Ciência: um espaço possível para a maternidade

Mães cientistas buscam conciliar vida acadêmica e cuidado com filhos em área pouco acolhedora para a maternidade

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Leah Ambwaya, ativista pelos direitos das crianças e presidente da Terry Children Foundation, no Quênia, diz no documentário "O começo da vida" que um governo que preza o desenvolvimento das crianças ou o futuro da nação deve investir em parentalidade: criar oportunidades para que pais e mães tenham mais tempo de qualidade com os filhos.

Tornei-me mãe pela primeira vez em 2013, dois anos após ser contratada como docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desde então vivi experiências que me mostraram como precisamos evoluir em relação aos direitos das crianças e das mulheres, em especial das mães.

Apesar dos avanços dos últimos anos, carecemos de políticas públicas que efetivamente conciliem carreira e maternidade, uma das principais barreiras para a colocação de mães no mercado. E no sistema brasileiro de educação e ciência, isto não é diferente.

Cena do documentário "O Começo da Vida 2: Lá Fora", que exalta a importância da conexão entre crianças e a natureza - Divulgação

Quando analisada a presença feminina na academia e na ciência no Brasil, encontramos o chamado efeito tesoura: à medida que avançam na carreira, as mulheres assistem sua participação desmilinguir, especialmente em cargos de liderança — somente neste ano temos a primeira mulher na presidência da Academia Brasileira de Ciências, instituição criada há 105 anos.

Esta sub-representação progressiva é um problema complexo, para o qual contribuem muitos fatores, como o assédio dentro das instituições, a reprodução de estereótipos de gênero e também a maternidade.

Mas atenção: a maternidade não é um problema para a vida acadêmica de uma mulher. O problema é que o sistema em que elas se inserem não acomoda mães nem pessoas que não se encaixam em um padrão outrora representado pelos ocupantes dos bancos das universidades.

Este não acolhimento das mães passa por questões culturais e sociais, mas também legislativas. Em pleno 2022, não temos uma lei que garanta a licença-maternidade para estudantes, o que reforça que a sociedade ainda não vê a mãe dentro da esfera acadêmica.

Foi neste contexto de necessidade de uma luta por equidade que fundamos em 2016 o Movimento Parent in Science [Pais e Mães na Ciência]. Hoje somos um grupo de 90 cientistas, de todo o Brasil, produzindo dados e conhecimento para subsidiar o desenvolvimento de políticas de apoio para mães na academia e na ciência, sejam elas estudantes ou profissionais. Ao longo destes seis anos, lideramos estudos e ações que promoveram mudanças concretas.

Em 2018, lançamos a campanha #maternidadenolattes, que demandava um campo na Plataforma Lattes (onde os currículos de todos cientistas brasileiros estão registrados) para registrar as pausas na carreira em decorrência da maternidade.

Amparado pelos dados gerados em nosso primeiro levantamento nacional sobre parentalidade e carreira acadêmica e apoiado pela comunidade acadêmica, o pedido foi atendido em abril de 2021.

A disponibilidade desta informação nos currículos possibilita a ampliação de uma política já implementada em algumas universidades e agências de fomento, que passaram a considerar o impacto da maternidade na produtividade das cientistas, adotando regras específicas para a concessão de bolsas, editais de financiamento e processos seletivos nos casos de candidatas mães.

Este foi um avanço sem precedentes em nosso país, na direção de uma cultura de equilíbrio entre vida profissional e pessoal, diminuindo a penalização profissional das mães.

A ciência já deixou claro que a primeira infância é determinante para o futuro das crianças e, consequentemente, da sociedade. Dentre tantas questões cruciais que permeiam o cuidado em uma cultura patriarcal como a nossa, é preciso que tenhamos o direito básico de zelar por nossos filhos sem pagar profissionalmente por isso. Ouçamos a ciência!

Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é Fernanda Staniscuaski, fundadora do Movimento Parent in Science.

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