Uma menina de 11 anos, estuprada desde os oito em Teresina (PI), está grávida pela segunda vez. Da primeira, foi obrigada a ter o filho. Agora, ao que tudo indica, pode ser mãe novamente, caso Justiça, Ministério Público, Conselho Tutelar e órgãos de saúde não respeitem o seu direito.
A criança já demonstrou não querer ter outra criança novamente, assim como fez com o primeiro bebê, mas não foi ouvida. Embalando-o, ela dizia que sonhava voltar para a escola. Neste mês, ao saber da segunda gravidez, apenas indagou: Tia, e agora?
E agora? É a pergunta que todos nós fazemos. Agora irão cuidar dessa criança como se deve? Irão respeitar seu direito de interromper a gestação a qualquer tempo, mesmo após o segundo trimestre?
E agora? Irão olhar para milhares de meninas nas periferias e rincões deste país largadas à margem de uma sociedade que trata a mulher como um ser social de segunda classe?
E agora? Irão respeitar nossos direitos? De ir à escola, de cuidar de nosso corpo, de sermos donas deles e de nossas escolhas?
É claro que uma menina de 11 anos sabe pouco sobre escolhas que podem comprometer o seu futuro para sempre e, com isso, nosso papel como nação é zelar para que sua vida seja digna do momento que saiu do ventre de sua mãe até o dia do último suspiro.
Vida digna é proteger as vidas que podemos. Interromper o estupro no ninho é o papel primordial, digo isso antes que qualquer puritano venha afirmar que sua luta é contra o estupro. A minha também. E tenho certeza que nenhum dos que me leem será a favor de tal atrocidade humana.
Mas vida digna também passa por garantir que a maternidade não comprometa a existência de nenhuma de nós. E estamos falhando miseravelmente neste quesito.
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