Conrado Hübner Mendes

Professor de direito constitucional da USP, é doutor em direito e ciência política e membro do Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade - SBPC

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Descrição de chapéu Folhajus

JusPorn Awards 2022: votação aberta

Neste ano, Nova York sediará a festa do strip-tease magistocrático

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O pecado mora ao lado da toga, conta a história brasileira da devassidão. O cabaré juspornográfico de 2022 teve luz própria, apesar da orgia patriótica nos quartéis em protesto contra fiasco eleitoral bolsonarista. A pornografia milico-fundamentalista de Jair não tem o charme e a graça daquela que se passa nas alcovas forenses.

A terceira edição da festa do strip-tease magistocrático ocorrerá em inferninho nova-iorquino. Medida de discrição pela família. Recato e dignidade ficam de fora. Patriotas gritando de frio e de raiva da democracia, também. A lei seca dá lugar à jurisprudência lubrificada. Sabemos que em Nova York juízes se sentem à vontade para o desbunde. Está na hora de internacionalizar a falta de noção.

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Estátua da Justiça - Alan Marques-12.ago.13/Folhapress

As candidaturas exalam muita libertinagem. Na categoria "crônicas da vida promíscua", um excesso de candidatos acirrou a disputa. Primeiro, o "Fórum Jurídico de Lisboa", organizado por empresa educacional de ministro do STF, o IDP, apesar de a Constituição proibir juiz empreendedor. Reúne todo ano autoridades políticas do país.

Segundo, evento da empresa de João Doria em Nova York, patrocinado por grandes grupos econômicos interessados no STF, contou com presença de seis ministros. Seis. Se você não conhecia juiz de Corte Suprema que se presta a bibelô de magnatas, só olhar ali.

Terceiro, alguns dos mesmos ministros foram ao "Fórum Brasil 2023-26", em resort em Guarujá, dias mais tarde. Devidamente patrocinado pelo grande capital. Aqui não tem soft porn.

Quarto, juízes e promotores foram a Washington para misteriosa reunião de trabalho na OEA (Organização dos Estados Americanos). Viagem no escuro, descoberta depois. O objetivo era firmar acordo educacional. Não explicaram por que o formato presencial e custoso. Não explicaram por que Augusto Aras.

A mesma turma de ministros do STF participou de festa na casa do advogado de Ciro Nogueira para celebrar diplomação de Lula. Erro grosseiro de Lula em estar presente. Erro lascivo dos ministros. É como se a Copa terminasse, torcedores derrotados queimassem carros na rua, e os árbitros da final festejassem com os campeões na casa do lobista da Fifa. É descompostura de quem organiza, completa falta de noção de quem aceita o convite.

A categoria "enriquecimento quase lícito" observa a arte e engenho de forjar salário que estoure o teto, feito de verbas indenizatórias (não remuneratórias) e livres de imposto. Teve R$ 5 bilhões em verba retroativa aprovada pelo TJ-MG. Tem tentativa de juízes federais resgatarem penduricalho por tempo de serviço. Teve o TJ-SP buscando bônus por "excesso de trabalho".

A magistocracia não é só rentista, é também dinástica. A categoria "laços de família" trouxe filho de desembargador, genro de Roseana Sarney, aos 35 anos, ganhando cadeira vitalícia no TFR-1 na vaga de Kassio Nunes. A família magistocrática se ama. Fux que o diga.

Na categoria "Black Friday do decoro judicial", que observa leilões do centrão magistocrático para indicações de juízes a tribunais superiores, teve destaque a competição entre indicados de Gilmar e de Kassio para o STJ. Bolsonaro deu vitória a Kassio. Também teve a indicação ao TST de juíza cuja família deve a Kassio honorários advocatícios.

Na categoria "há coisas que a toga não pode comprar, para todas as outras existe Magistocard", novamente desponta Kassio Nunes. O ministro aceitou mimo de advogado que lhe pagou jato para acompanhar um nobre combo esportivo no verão europeu: a final da Champions League de futebol, o GP de Mônaco de F-1 e a final de tênis em Roland Garros.

Finalmente, a categoria "caça aos comunistas" contempla a magistocracia que geme de ódio da democracia e goza quando Bolsonaro ameaça golpe. Desembargador mineiro declarou que tratados de direitos humanos têm "lado esquerdo e de bandido".

Desembargador do TJ-GO atacou Globo por "enaltecer homossexuais". TRT de Santa Catarina anunciou plano de construir estande de tiro. Desembargadora da capital, amiga de Flávio Bolsonaro, declarou que "a verdadeira seleção brasileira está na frente dos quartéis" pedindo fim da democracia.

Bolsonaristas foram ensinados a gritar contra a "ditadura judicial", que reprimiria seu desejo vital de violar a lei. Para nomear essa pulsão primal e pré-civil, inspirada na melhor tradição escravocrata, a nova delinquência política nacional contrabandeou a palavra "liberdade". Por meio dela pede licença para matar, aterrorizar e planejar golpe.

Quando patriotas notarem que, por trás da fantasia da ditadura judicial, o que rola mesmo é pornografia, poderão se libertar da masturbação alienatória, superar a miséria existencial e barbarizar na festa do JusPorn Awards, o baile da decrepitude transviada.

Vote. O JusPorn Committee quer saber tua opinião. Entrega na semana que vem.

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