Dan Ariely

Professor de economia comportamental e psicologia na Universidade Duke (EUA), autor de “Previsivelmente Irracional”.

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Dan Ariely

Ask Ariely: sobre opiniões divergentes, sentimento de fracasso e ajuste de atividades

Mudar a opinião das pessoas é muito difícil, mas há esperança

Querido Dan,

Recentemente, descobri pesquisas que mostraram que, quando as pessoas possuem crenças extremas, dar-lhes dados que contradizem suas opiniões, na verdade, acaba fortalecendo essas crenças! Isso significa que não há como mudar as crenças de pessoas com opiniões extremas?

Jordan 


Jordan,

Mudar a opinião das pessoas é muito difícil, mas há esperança. Com relação a pessoas que têm pontos de vista extremos, uma descoberta também paradoxal é que apresentá-las com argumentos ainda mais extremos, mas que apoiem suas crenças, ajuda a persuadi-las a moderar esse extremismo. Em um artigo publicado no Proceedings of National Academy of Sciences em 2014, Boaz Hameiri e colegas descrevem uma intervenção na cidade de Israel, onde usaram essa abordagem em uma campanha publicitária sobre o conflito entre Israel e Palestina. A campanha foi criada para tentar mudar as opiniões dos israelenses de direita que se opõem à paz.

Os anúncios apresentavam afirmações absurdas sobre os benefícios do conflito por exemplo, que a guerra é boa para a camaradagem, moralidade e que ela contribui para ajudar a criar uma espécie de “cultura única de Israel”.

Os resultados mostraram que a campanha mudou as mentes das pessoas: pelo que disseram e pela forma como relataram votar, aqueles com visões de direita se tornaram mais conciliatórios e deixaram de apoiar políticas agressivas, em comparação com moradores de uma cidade israelense que tinham pensamentos também extremos, mas não tiveram acesso à campanha publicitária. Os pesquisadores acreditam que a intervenção teve sucesso porque os anúncios acabaram levando as pessoas a considerar mais profundamente suas próprias crenças.

 

Olá, Dan!

Por que acreditamos que podemos aprender com nossos próprios erros, mas colocamos a culpa do fracasso de outras pessoas em suas personalidades e/ ou em uma suposta falta de habilidades suficientes? Este fenômeno de “via de mão única” já foi estudado?

Darin 


Darin,

você está descrevendo um comportamento que se enquadra no que os psicólogos sociais chamam de "erro fundamental de atribuição". Em geral, tendemos a ver coisas boas que acontecem a nós como produto de nosso próprio fazer e coisas ruins como resultado de circunstâncias externas. Por outro lado, tendemos a atribuir coisas boas que acontecem a outras pessoas a circunstâncias externas e coisas ruins ao seu próprio fazer.

Acreditamos que podemos aprender com nossos próprios erros, porque esses erros não são realmente ligados a nós. Achamos que eles envolvem circunstâncias externas a nós, com as quais podemos aprender a lidar melhor.

Será possível aprender a não fazer mais esse tipo de julgamento? Passei muito tempo no Vale do Silício encontrando executivos de startups e capitalistas de risco. Fiquei impressionado com o que muitas vezes acontece quando um startup acaba não dando certo: as pessoas no Vale do Silício abordam o revés de forma muito menos negativa do que o resto do mundo. Os executivos às vezes até olham para o fracasso de seus colegas de maneira positiva, como um sinal de experiência e aprendizado.

Podemos generalizar o que acontece no Vale do Silício com o resto do mundo? Não tenho certeza, mas parece-me que podemos mudar a maneira como encaramos as falhas de outras pessoas e talvez até limitar a culpa que atribuímos a elas, como faríamos com nossos próprios fracassos.

 

Olá Dan,

digamos que o seu cotidiano inclui coisas como jogar poker com amigos toda semana ou cuidar do jardim todo fim de semana. Como você decidir se é bom continuar com essas atividades ou parar e tentar algo novo?

Joanne 


Joanne,

questionar o valor de nossas rotinas é bom, porque pode nos ajudar a parar de fazer coisas que não gostamos mais. Mas pode ser ruim, no entanto, porque esse questionamento também pode atrapalhar a felicidade que determinadas atividades nos proporcionam. Então sugiro que você se questione, sim —mas apenas por um curto período de tempo. Talvez tire uma semana só para avaliar quanto prazer você recebe de suas atividades de lazer —e considere o que você poderia fazer em vez disso para tomar sua decisão!

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