Daniel E. de Castro

Jornalista especializado na cobertura de esportes olímpicos. Foi repórter e editor de Esporte da Folha e cobriu os Jogos de Tóquio

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Daniel E. de Castro

Medalha por equipes na ginástica é um dos maiores feitos olímpicos do Brasil

Rebeca, Flávia, Jade, Julia e Lorrane levam país para um pódio só habitado por gigantes

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Cada medalha olímpica tem um valor único e incomparável para o atleta que a ganha. No quadro de medalhas, elas valem como uma só, independentemente de quantas pessoas a conquistaram. Só que algumas carregam peso simbólico especial, e esse é o caso do bronze da equipe feminina brasileira de ginástica artística.

O feito de Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Julia Soares e Lorrane Oliveira tem ineditismos —e também percalços— que o tornam uma das maiores façanhas da história olímpica do Brasil.

Nunca antes o país havia passado perto de um pódio por equipes em Jogos. Até então, o melhor resultado havia sido o oitavo lugar (em 2008 e 2016).

A ginástica artística não é muito democrática na distribuição de medalhas, e a lista de países que costumam ir ao pódio na disputa por equipes é composta basicamente por grandes potências geopolíticas. No feminino, desde os anos 1990, esse lugar só tinha sido ocupado por EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha e Romênia ("intrusa" de grande histórico no esporte).

Cinco atletas brasileiras estão no pódio, sorrindo e segurando medalhas de bronze. Elas vestem uniformes amarelos e azuis, com jaquetas que têm detalhes em verde. O fundo é desfocado, sugerindo um ambiente de competição.
Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Flávia Saraiva e Julia Soares com suas medalhas olímpicas - Cao Can/Xinhua

A treinadora ucraniana Iryna Ilyashenko, na seleção brasileira desde 1999, conta uma história que ilustra como o país teve que entrar nesse grupo quase pedindo licença.

No Mundial de 2007, uma autoridade da Federação Internacional de Ginástica ficou espantada quando viu Jade perto de ganhar uma medalha no individual geral. Assim como a competição por equipes, essa prova normalmente é dominada pelas potências.

Segundo a treinadora, a dirigente se virou para ela e disse: "Uma ginasta do Brasil vai ganhar no individual geral? Não existe isso". Iryna respondeu: "Por que não existe? A gente está trabalhando e vai concorrer".

Àquela altura, Jade já era um dos grandes nomes do Brasil, ao lado de Daiane dos Santos e Daniele Hypólito. Uma das ginastas mais completas que o país já teve, ela conquistou o bronze naquele Mundial, há 17 anos.

Foi a sua maior conquista durante muito tempo. Apesar de uma série de lesões, Jade persistiu. Virou uma ponte entre gerações e referência para atletas que, juntas, finalmente pareciam capazes de conquistar a tão buscada medalha coletiva.

É claro que o Brasil não estaria nessa disputa se não fosse o talento descomunal de Rebeca. Mas para vencer a competição por equipes é preciso ter cinco ginastas capazes de pontuar bem nos quatro aparelhos. A prova definitiva de que o Brasil tinha achado esse time veio no Mundial do ano passado, com a inédita prata.

Só que a margem brasileira não era muito grande, e por isso o país precisaria das cinco em boas condições para ter esperanças em Paris. Em Tóquio, devido a lesões, o Brasil não conseguiu classificar a equipe feminina.

É preciso reconhecer os méritos do Comitê Olímpico do Brasil, da Confederação Brasileira de Ginástica e, principalmente, dos treinadores Chico Porath e Iryna, que conseguiram preservar o físico e o mental das atletas diante de uma chance tão boa —e, por isso mesmo, assustadora.

Depois de três lesões no joelho direito, Rebeca conseguiu passar muito bem por esse ciclo e se consagrar definitivamente. Só que outros desafios apareceram. De uma perda familiar muito dolorosa para Lorrane (consequentemente para todo o grupo), até um corte no supercílio de Flávia durante o aquecimento para a decisão, não faltaram pequenos e grandes dramas.

Erros das brasileiras na final garantiram emoção até a última nota, mas não impediram que décadas de evolução da ginástica artística do país enfim encontrassem seu ápice. Flávia, Jade e Lorrane não ficarão sem medalha olímpica, Rebeca ainda pode conquistar várias, e Julia, a caçula aos 18 anos, mostrou ter um futuro promissor.

Não será fácil repetir essa conquista, mas, graças a elas, para sempre estará gravado que o Brasil chegou lá.

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