Débora Miranda

Jornalista, trabalhou no Agora e no G1. Escreve sobre esporte no UOL.

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E agora, Vadão?

É preciso autoestima para tomar um vira de 3 a 2 e não achar que foi encurralado

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"Nós tomamos dois gols acidentais." Simples assim foi o diagnóstico do técnico da seleção brasileira depois que o time abriu 2 a 0 diante da Austrália e acabou derrotado por 3 a 2 no segundo jogo desta Copa do Mundo feminina. Vadão ainda achou por bem destacar: "Não vi o adversário nos encurralando".

É preciso ter muita autoestima para tomar um vira de 3 a 2 e não achar que foi encurralado. Sem Marta, Formiga e Cristiane em campo, a seleção se perdeu. Tudo o que a equipe adversária mostrou de gana, o Brasil retribuiu com passividade. Um time que não foi capaz, sem suas principais referências, de encontrar estabilidade, equilíbrio nem criatividade. E, assim, sucumbiu à pressão.

Vadão, técnico da seleção feminina, durante entrevista coletiva antes da Copa do Mundo
Vadão, técnico da seleção feminina, durante entrevista coletiva antes da Copa do Mundo - AFPMauro Pimentel-16.mai.19/AFP

Pequeno problema: de lá para cá, a pressão só cresceu. Formiga está lesionada (mas não jogaria de qualquer forma por estar suspensa), Marta ainda se recupera. E o Brasil precisa empatar nesta terça (18) da Itália, única equipe invicta do grupo, para garantir sua classificação nas oitavas sem riscos nem percalços. E agora, Vadão?

Apesar do bom momento do futebol feminino, a seleção está longe de viver seu auge. Chegou desacreditada à Copa, acumulando nove derrotas, e foi a única entre os 24 times que optou por não fazer amistosos antes do campeonato. Jogadoras e comissão se reuniram, conversaram, tentaram aparar arestas e aterrissar na França com o pé direito. Mas há questões mais profundas que envolvem o grupo.

A própria Formiga deu entrevista recente à Folha destacando a falta de investimento da CBF em renovação e dizendo que o time não podia depender de Marta para sempre. "Falta dar ao futebol feminino a oportunidade de crescer", afirmou.

 

A crítica não é nova. Quando Emily Lima --primeira e única mulher a comandar a seleção feminina-- foi demitida do cargo, em 2017, as jogadoras se revoltaram. Havia na época um entendimento de que o trabalho dela seria importante para a evolução e a renovação do futebol feminino. As reclamações mais comuns têm a ver com falta de investimento em categorias de base, marketing e a necessidade de adequação do calendário.

Atletas como Cristiane e Rosana declararam que não jogariam mais pela seleção. Até Marta se manifestou dizendo que a dispensa havia sido precipitada. Detalhe: Emily substituiu e foi substituída por Vadão.

Mas verdade seja dita: foi o próprio Vadão quem convenceu as atletas a retornarem. E elas são, hoje, o maior trunfo do Brasil. Individualmente, a seleção é um time forte. Contraditório, mas assim é o futebol (e Messi está aí na Copa América para nos mostrar isso). Nem sempre todos os talentos do mundo juntos formam o time mais talentoso. E, muitas vezes, o brilhantismo individual é capaz de salvar uma partida. Não é matemático, mas é onde recai agora a esperança verde e amarela.

​E a esperança não é descabida. As atletas brasileiras não costumam se esconder de problemas e sempre demonstraram desejo de vencer. É uma frustração grande para o grupo nunca ter sido campeão de uma Copa, o que pode, hoje, movê-lo rumo à próxima fase do Mundial. Mas se não está pronto para brincar, melhor não descer pro play. A verdade é que a equipe precisa se fortalecer, pois, daqui para a frente, a tendência é que os desafios sejam cada vez mais difíceis.

Inegavelmente, há muito trabalho a ser feito, e a vitória depende de diversos fatores. Depende de superar problema físicos. De parceria e fechamento, em campo e fora dele. De saber que haverá momentos em que o time ficará encurralado, mas que acuado ele não pode estar. De amadurecimento e sangue frio para decidir. E, acima, de tudo, de ter a consciência de que tomar gol acidental também faz perder o jogo.

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