Dizem, com razão, que não existe impulso mais forte que o de querer corrigir a prosa de outros. Alguém como eu, que se orgulha estupidamente de seu estilo de escrita e pouco aprendeu sobre o que torna um texto em prosa bom ou ruim, morre de vontade de melhorar a escrita dos outros.
Cedi a esse impulso depois da leitura de um livrinho intitulado "Economical Writing: Thirty-Five Rules for Clear and Persuasive Prose", 3ª edição, 1999. A vigésima regra contida no livro, por exemplo, é "evite a variação elegante", ou seja, evite usar palavras diferentes para designar a mesma coisa: "crescimento do PIB", "desenvolvimento econômico", "enriquecimento", "melhoria". A variação elegante nos foi ensinada no colégio na regra idiota: "Não use a mesma palavra duas vezes em quatro linhas. Escreva com ‘elegância’." Nada disso. Mantenha a mesma palavra, empregue um "o" ou "a" de vez em quando e sua prosa será clara e coerente.
Ótimo. Mas já observei que transmitir regras boas às pessoas nem sempre funciona. Elas resistem. Não querem aprender com a famosa especialista Deirdre, apesar de ela ser considerada uma das pessoas que melhor escreve sobre economia —o que é como dizer que ela é uma boa corredora da prova dos cem metros entre pessoas com pernas quebradas.
Quando começo a ficar muito orgulhosa, abro "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago, mesmo na tradução para o inglês e lembro que não passo de mera amadora. Para aprimorar-se na escrita, assim como no amor ou na governança, é preciso acreditar com toda a humildade que você é ruim nesse quesito, tomar a decisão de aprender as regras corretas, não as idiotas, e depois aplicá-las de maneira artesanal, repetidamente.
Como o casamento ou a marcenaria, o ofício de escrever pode ser árduo. Ernest Hemingway disse que a escrita fácil produz leitura difícil. Isso é verdade.
Eu disse "governança". O impulso de intrometer-se ou controlar a vida de outros adultos é quase tão forte quanto o impulso de revisar a prosa deles. Temos a chance de praticá-lo como pais. Mas vocês sabem que educar os filhos pela coerção muitas vezes funciona mal. As crianças podem ou resistir ou abraçar a escravidão.
Quer você esteja educando seus filhos, ensinando escrita ou gerindo a economia, é melhor sugerir gentilmente que o objetivo é ser adulto, com humildade e dedicação ao ofício. Coagir pessoas como se fossem crianças desobedientes as converte em... crianças desobedientes. O "adultismo" é melhor, não?
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