Desigualdades

Editada por Maria Brant, jornalista, mestre em direitos humanos pela LSE e doutora em relações internacionais pela USP, e por Renata Boulos, coordenadora-executiva da rede ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades), a coluna examina as várias desigualdades que afetam o Brasil e as políticas que as fazem persistir

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Desigualdades

Os desafios urgentes nas políticas de combate às desigualdades

Trabalho doméstico e produção econômica têm de ser parte do modelo de desenvolvimento

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Michelle Ferreti, Marina Barros, Cíntia Melchiori e Tauá Pires

Co-diretoras do Instituto Alziras, organização da sociedade civil que atua para ampliar e fortalecer a participação de mulheres, em sua diversidade, na política e na gestão pública

A desigualdade é um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade. No cerne dessa disparidade, a ausência de uma perspectiva de cuidados na gestão pública tem se revelado um fator crítico que perpetua e aprofunda as divisões sociais.

O ano de 2024 será de eleições municipais e, desde já, é importante questionar de que forma as pré-candidaturas estão pautando o tema dos cuidados e que propostas serão apresentadas para o combate às desigualdades nesse assunto.

A maior parte do trabalho de cuidados é desempenhado por mulheres, de forma não remunerada e desvalorizada. De acordo com o IBGE, a parcela de mulheres jovens que não estudam nem trabalham é quase o dobro da de homens. O que os dados não mostram é quantas dessas mulheres são jovens mães ou responsáveis pelo cuidado doméstico e quantas oportunidades de emprego, desenvolvimento profissional e educação foram sacrificadas para cumprir esse papel fundamental. Para abordar essa desigualdade estrutural, é crucial implementar políticas de cuidados que levem em conta as demandas de cuidado da sociedade, junto com a valorização e garantia de direitos de quem cuida, especialmente das mulheres em sua diversidade.

O desenvolvimento econômico do país também está atrelado aos cuidados. Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas afirma que se o trabalho de cuidados feito pelas mulheres fosse computado, isso acrescentaria ao menos 8,5% ao PIB. Uma equação desigual: de um lado a não remuneração e a invisibilidade, do outro um trabalho que movimenta a sociedade: economicamente, produtivamente e estruturalmente.

A incorporação de uma política de cuidados transversal na gestão pública pressupõe uma mudança paradigmática que traga a vida para o centro do debate. Ao abordar questões relacionadas ao cuidado infantil, envelhecimento da população, pessoas com deficiência, estruturas públicas comunitárias e a redistribuição das responsabilidades de cuidados, essas políticas têm o potencial de criar sociedades mais justas e equitativas.

Vale reforçar que muitos povos e comunidades tradicionais possuem uma lógica de cuidado inserida na cultura —práticas ancestrais que transformam, por exemplo, o cuidado das crianças em uma responsabilidade de todas as pessoas. É preciso reconhecer esses saberes e construir políticas também a partir de boas práticas comunitárias ou já existentes na própria gestão pública.

A política de cuidados é um pilar fundamental na construção de sociedades mais justas e menos desiguais. Ignorar essa questão não só perpetua as desigualdades econômicas como contribui para a manutenção da desigualdade de gênero e de raça consolidadas pelo patriarcalismo.

É hora de reconhecer o valor do trabalho de cuidados, implementar políticas públicas a partir desse viés e criar um ambiente em que a reprodução da vida, o trabalho doméstico e a produção econômica sejam parte de um mesmo modelo de desenvolvimento.

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