O COI (Comitê Olímpico Internacional), finalmente, está conseguindo remover uma das pedras que vinham atrapalhando a sua caminhada neste ciclo rumo ao Jogos Olímpicos de Tóquio, previstos para meados do ano que vem. O impasse da entidade com a Aiba, a Associação Mundial de Boxe, abre uma janela para a paz.
O uzbeque Gafur Rakhimov, eleito em novembro passado para a presidência da Aiba, entidade responsável pelo boxe na Olimpíada, anunciou na última sexta (22) sua intenção de deixar o cargo. Ele é o obstáculo nas relações das duas entidades. O COI não o denuncia oficialmente por irregularidades, mas não evita insinuações desabonadoras e tinha deixado claro antes da eleição que não concordava com a candidatura dele.
Há suspeitas de que o uzbeque seja integrante de organização criminosa internacional e que seu nome esteja numa lista do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Nenhuma das partes apresentou provas contundentes de culpa ou inocência. Nesse clima, o conflito se instalou.
Após o anúncio de Rakhimov de se afastar do cargo, o marroquino Mohamed Moustahsane, 50, médico, foi o único dos cinco vice-presidentes da entidade que aceitou o desafio de assumir a direção da Aiba. O anúncio oficial deve acontecer em breve.
Moustahsane tem experiência no enfrentamento de gestão em crise. Foi assim que ele conquistou em definitivo no ano passado a presidência da AFBC, a confederação africana de boxe, depois de ter rendido interinamente em 2017 o então comandante Kelani Bayor, punido com suspensão por violar os regulamentos da Aiba.
Rakhimov refuta todas as acusações, alegando que foram fabricadas e motivadas por razões políticas. Não está claro se o afastamento dele será definitivo ou haverá alguma chance de retorno caso sua inocência seja comprovada futuramente.
É claro que para o COI, no momento, só o afastamento do cartola resolve o problema. Como a Aiba já vinha sob intervenção antes da eleição definitiva de Rakhimov, que dirigia a entidade como interino, o comitê olímpico tinha exigido outras investigações na organização, abalada por irregularidades na gestão Wu Ching-Ko. Havia necessidade de ajustes em áreas como governança e gestão financeira, bem como na integridade das suas competições.
A Olimpíada do Rio, por exemplo, provocou o afastamento de 36 árbitros e juízes que estiveram naquela competição para uma investigação. Nenhuma evidência de burla foi encontrada. O episódio havia sido instigado por uma suspeita, sem provas, levantada antes da Olimpíada em reportagem do jornal britânico “The Guardian”, de que havia a possibilidade de manipulação de resultados. No boxe, interpretações dessa natureza são rotineiras, sempre existiram.
Apesar das pressões desde que foi eleito, Rakhimov resistiu e chegou a enfrentar insinuações do COI sobre possível exclusão da modalidade da Olimpíada. Conversa para boi dormir, pois a preparação dos torneios olímpicos de boxe de Tóquio sempre estiveram em progresso, tanto no planejamento da Aiba como na atuação do comitê organizador dos Jogos. O conflito, no entanto, causou tensão para os atletas por causa dos torneios classificatórios, sem agendamento definitivo, tornando os planos de preparação mais complicados.
Caso o impasse persistisse, a punição não seria tão drástica como chegou a ser especulado. Apenas a Aiba cairia fora da Olimpíada. Os direitos, a organização e as responsabilidades pelos torneios ficariam com outra organização. Ainda nesta temporada, a Aiba realiza seus dois Mundiais: o feminino, em outubro, e o masculino, em setembro. A luta continua.
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