Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Eduardo Sodré

Há 50 anos, Corcel e Opala eram as estrelas do Salão do Automóvel

Durante 15 dias em 1968, o conturbado Brasil olhava para um futuro lúdico. No dia 23 de novembro daquele ano, a sexta edição do Salão do Automóvel de São Paulo foi aberta ao público, no parque Ibirapuera.

Em exibição, modelos que logo estariam nas concessionárias, sonhos de consumo. O país tinha então 36 habitantes por carro; hoje, a relação é de 4 para 1.

A principal atração da Chevrolet foi o Opala. O sedã exibido nas versões Standard e Luxo trazia motores de quatro ou seis cilindros. Moças de vestidos escuros, misses em seus estados, apresentavam o carro. 

A Ford mostrou o Galaxie LTD, versão mais luxuosa do sedã de 5,3 metros de comprimento. Nos anúncios, a marca dizia que o modelo era “o desafio brasileiro aos carros importados”. Próximo dele estava outra novidade: o Corcel.

Na Volkswagen, o destaque foi o 1600, sedã quatro portas que teve vida curta —deixou de ser produzido em 1971— e só fez sucesso entre os taxistas. Tornou-se o Zé Caixão, apelido atribuído às linhas retas da carroceria e às maçanetas que, na visão popular, lembravam as alças de um esquife.

O carro conceito do evento foi o X-1, protótipo que podia andar sobre o asfalto ou na água. O projeto desenvolvido por estudantes de engenharia mecânica da FEI (Faculdade Educacional Inaciana) teve a coordenação do professor Rigoberto Soler (1926-2004).

Na capa do caderno especial publicado pela Folha no dia seguinte à abertura do evento, o jornalista Joelmir Beting (1936-2012) escreveu: “O homem moderno é formado de quatro partes: cabeça, tronco, membros e automóvel”. O texto expressava o papel do carro na época, era o símbolo da civilização moderna.

As matérias abordavam temas ainda atuais: o preço do carro nacional, a ausência de modelos de baixo custo à venda e as queixas das montadoras sobre a carga tributária, “a mais alta do mundo”. O salão de 1968 ainda não acabou. 

Se as discussões permanecem estacionadas nas mesmas pautas nestes 50 anos, os carros aceleraram.
O Corcel 1.3 se destacava por ter radiador selado (não precisava repor água a toda hora), e os freios podiam ser a disco nas rodas dianteiras. Hoje, um modesto Ford Ka 1.0 parece uma limusine tecnológica quando comparado ao “avô”.

A próxima edição do Salão do Automóvel de São Paulo acontece mais uma vez no mês de novembro. Os Opalas, Volks e Corcéis devem aparecer como cinquentões para serem homenageados, mas as atrações serão superesportivos, jipinhos e carros elétricos.

Quando os novos veículos estiverem em exibição, o período eleitoral estará encerrado e o país já conhecerá seu próximo governante.

O salão de 1968 foi fechado em 8 de dezembro. Cinco dias depois, o presidente Arthur da Costa e Silva (1899-1969) decretou o Ato Institucional número 5.

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