Depois da direita populista ganhar terreno no mundo com frases simples, diretas e vazias via redes sociais, chegou a vez da esquerda fazer sua experiência nesse campo.
No Brasil, Guilherme Boulos (PSOL) bem que tentou com seus “cinquenta tons de Temer” e o “bolsa banqueiro”, mas é nos Estados Unidos, principal democracia do mundo, onde a estratégia será testada em grande escala pela esquerda.
A ascensão da deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, 29, como nova estrela traz, com conteúdo diferente, a mesma embalagem que ajudou a eleger o republicano Donald Trump em 2016 e gente como Jair Bolsonaro em 2018.
Auto-referenciada pelo acrônimo AOC para simplificar as coisas, Alexandria Ocasio-Cortez, apresenta, assim como populistas bem-sucedidos, novidades incríveis pela internet e planos econômicos ambiciosos que não param de pé.
Vendida como "socialista" no país-sede de um capitalismo que hoje concentra renda, AOC tirou da cartola a ideia sexy do “New Deal verde” –referência ao plano de Franklin D. Roosevelt nos anos 1930 que ajudou os EUA a saírem da Grande Depressão.
Estimativas feitas com base em seus projetos de alavancar a economia com políticas conservacionistas indicam obras e benefícios governamentais de US$ 6,8 trilhões ao ano, valor nada menos do que 70% acima do Orçamento regular dos EUA.
Pelo plano, o aumento de gastos seria autofinanciável pelo crescimento econômico que essas políticas proporcionariam.
É algo como o que o PT vendeu na eleição ao rechaçar um ajuste fiscal, argumentando que mais gastos públicos geram mais PIB e arrecadação —e não crise se as contas públicas não estiverem ajustadas.
Nesse ponto, mas com o sinal trocado, a proposta de Alexandria não difere muito do que o tuiteiro Trump vem fazendo em termos macroeconômicos e fiscais com seu corte de impostos para os ricos.
A política vem provocando aumento estarrecedor no déficit fiscal dos EUA, que deve atingir US$ 1 trilhão neste ano, algo que só era esperado em 2020.
A fórmula das mensagens simples não é nova. A diferença agora elas chegam de forma íntima, e por isso mais crível, na mão do eleitor. Mas sem oferecer o posterior e aborrecido debate técnico sobre sua viabilidade.
Passamos dessa fase. Afinal, as redes sociais estão aí para facilitar a vida de todos.
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