No comando do Globo de Ouro pela quinta vez, o comediante Ricky Gervais é conhecido por fazer monólogos de abertura com piadas às custas de mulheres, homens, gordos, idosos, religiosos, enfim, qualquer coisa que se movimente, ou não, em Hollywood.
No último domingo, além das ofensas diretas a atores, o comediante criticou a classe artística por se engajar em causas sociais e políticas, enquanto trabalha para corporações que, entre outras coisas, exploram mão de obra irregular, como Apple, Amazon e Disney.
O monólogo de Gervais recebeu muitas críticas, mas também foi aplaudido, principalmente pelos conservadores. Muitos até transcreveram a fala para espalhar pelas redes sociais, com mensagens como “vocês nos chamam de fascistas, olhem para si mesmos, seus hipócritas” e “chora, politicamente correto!”.
Uma das características dos conservadores é conservar energia na hora de criar discursos. Em vez de criar os próprios, eles se apropriam da fala alheia para calar, ou “lacrar”, qualquer um que discorde deles.
Como se a vida fosse um eterno pátio da quinta série, o “lacródromo”, onde disputam quem ofende melhor o coleguinha, enquanto os amigos gritam “uuuhhhh”.
Ricky Gervais não está errado em criticar celebridades e grandes corporações. Diferente de muitos comediantes, que se aproveitam da vulnerabilidade de minorias para fazer piada, ele ataca uma classe privilegiada, com todos os recursos para se defender, se necessário. Mas podemos dizer que os atores são hipócritas?
Se gastarmos alguns segundos no Google, descobriremos que qualquer um está ligado, direta ou indiretamente, a uma instituição com princípios contestáveis. Ainda está para nascer o dia em que alguém negue uma vaga de emprego ou recuse um medicamento porque a empresa explora mão de obra chinesa ou faz testes em animais, por exemplo. O próprio Ricky Gervais trabalha para empresas acusadas de incentivar exploração sexual e fraudar emissões de poluentes. Todos temos teto de vidro, como a própria Bíblia previu.
Sobre o fato de ser o novo herói dos conservadores e da direita, o comediante tuitou: “Como tirar sarro de grandes corporações e privilegiados pode ser considerado de direita?”.
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