Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Guerras de alfabetização

Proposta do Ministério da Educação de priorizar método fônico é elogiável

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Da tresloucada história do hino nacional ao recém-anunciado comitê pela pureza ideológica do Enem, as iniciativas do MEC sob o governo Bolsonaro foram um desastre. Mas, como até um relógio (analógico) parado fica certo duas vezes por dia, sinto-me no dever de elogiar a proposta do ministério de priorizar o método fônico na alfabetização de crianças.

A disputa entre os métodos fônico, que advoga pelo ensino explícito da relação entre letras e sons, e global, que defende o aprendizado com base no aspecto de palavras inteiras, não é nova. Nos países desenvolvidos, as chamadas guerras de alfabetização surgiram nos anos 50, atingiram o ápice nos 90 e começaram a resolver-se a partir de 2000.

Os entusiastas da abordagem global, ligados ao construtivismo, são o lado mais simpático, já que propõem uma educação mais libertária e instigante, longe das aborrecidas cartilhas, na qual a própria criança formula hipóteses e as testa. O problema é que os pressupostos do método global estão errados.

Sala de aula em escola pública na zona rural do interior do Espírito Santo
Sala de aula em escola pública na zona rural do interior do Espírito Santo - Adriano Vizoni - 11.out.18/Folhapress

O neurocientista Stanislas Dehaene, um dos maiores especialistas do mundo no assunto, é peremptório. Para Dehaene, o processo pelo qual palavras escritas são convertidas em sequências de fonemas precisa ser ensinado explicitamente. Ele não é natural. Ao contrário, exige cooptar uma complexa rede de mecanismos neurológicos que surgiram para outros fins. Insistir na abordagem global (ou nas mistas) só atrapalha a alfabetização da criança que, de um jeito ou de outro, precisará fazer o vínculo entre grafemas e fonemas.

As evidências de que o método fônico é preferível não vêm só da sempre controversa neurociência mas também de testes aplicados a milhões de alunos reais. Eles originaram revisões sistemáticas a partir das quais governos de países como EUA, França e Reino Unido extraíram diretrizes recomendando priorizar o método fônico.

Entre ideias simpáticas e as evidências, devemos preferir as evidências.

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