Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu machismo

Picasso e as mulheres

Faz sentido cancelar o artista espanhol porque ele as maltratava?

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Não gosto de cancelamentos. Ao empurrar debates para o campo dos "argumenta ad hominem", eles esvaziam as discussões de seu conteúdo específico, impedindo-as de tornar-se intelectualmente produtivas. Não vejo, porém, nenhuma fórmula viável para acabar com essa prática. São as próprias liberdades democráticas que asseguram a qualquer um o direito de criticar qualquer indivíduo, empresa ou instituição, bem como o de organizar protestos pacíficos e até boicotes.

A bola da vez é Pablo Picasso. Como mostrou ótima reportagem do Ivan Finotti, a Espanha planeja celebrar o artista por ocasião do cinquentenário de sua morte, mas grupos de ativistas ligados ao movimento MeToo prometem denunciar o machismo do pintor, que teria maltratado mulheres e amantes.

Não cabe a mim defender a conduta moral do espanhol. Mas não vejo maiores dificuldades em reconhecer que ele foi um artista brilhante, ainda que possa ter sido um péssimo ser humano. Isso me parece mais matéria para biografias do que para o ativismo.

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O pintor espanhol Pablo Picasso em 1952 - Robert Doisneau/Gamma Rapho via Imagine Picasso

Notem que o caso de Picasso é diferente do de outras figuras, como o Borba Gato ou dos generais americanos que massacraram índios ou lutaram para manter a escravidão. Anacronismos à parte, dá para questionar as homenagens rendidas a estes últimos argumentando que as ações pelas quais eles são celebrados são elas mesmas indissociáveis de uma violência que queremos ver extinta. Com Picasso, porém, não ocorre esse emaranhamento. As qualidades de sua obra independem da forma como ele tratava as mulheres.

Se a pessoa que sofre um cancelamento está viva, ainda dá para dizer que o processo a faz refletir sobre seus atos. Obviamente, não é o caso dos mortos. Minha impressão, portanto, é que militantes apenas se valem da ocasião para chamar atenção para a sua causa. É legítimo, mas custa-me crer que não existam defesas mais inteligentes (conteudísticas) da pauta feminista.

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