Há greves justas e greves estúpidas. A greve de estudantes da USP, que ainda persiste em algumas unidades, é uma das mais estúpidas que já vi. Os alunos pararam para cobrar da reitoria algo que ela já vinha fazendo, que é contratar mais professores. Assim, em nome de não ter o aprendizado prejudicado pela falta de docentes, os alunos se privaram de assistir às aulas, prejudicando seu aprendizado. Os professores de lógica devem estar se sentindo especialmente fracassados.
E eu receio que a reitoria também esteja se saindo mal. Entendo a exasperação das autoridades universitárias diante do absurdo da paralisação, mas a ameaça de reprovar por faltas todo mundo das unidades ainda paradas me parece uma resposta inapta. É óbvio que não dá para exigir de um estudante que ele tenha presença em aulas que não aconteceram. A violação aqui seria ontológica.
A medida produziria ainda máxima injustiça, já que estaria punindo também os estudantes que se opuseram à greve e eventualmente foram impedidos por barricadas de chegar ao local das aulas. Não sei se algo assim passaria pelo crivo da Justiça.
Há uma leitura mais benigna para a ameaça da reitoria. Ela estaria dizendo que, com mais de seis semanas de paralisação, são os próprios cursos que ficam legalmente inviabilizados, por não atingir a carga mínima de aulas. Mas o impeditivo não é absoluto. É possível estender o calendário escolar permitindo a reposição de aulas nos meses de férias, o que salvaria o semestre.
A jogada da reitoria é tentar pressionar os grevistas proibindo as unidades de alterar o calendário. O efeito prático, porém, é injustiça. Todos os alunos são prejudicados, independentemente da posição que tenham assumido.
A universidade já viveu dias melhores. Em instituições de elite dos EUA, alunos parecem coonestar atos de terrorismo; na USP, a própria reitoria cogita recorrer a uma espécie de punição coletiva.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.