Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Maníacos

Novo livro de Benjamín Labatut embaralha realidade e ficção na vida de cientistas

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Adoro ficção, mas leio pouca, e a culpa é sua, leitor. É que, para tentar comentar na coluna um livro novo toda semana, dedico quase todo o meu tempo de leitura a obras de não ficção. Penso que, nas páginas de um jornal, o que não é ficção deve ter prevalência sobre o inventado. Abri uma exceção para "MANIAC", o novo livro de Benjamín Labatut (já há edição brasileira), e não me arrependi.

Labatut opera nos limites entre a ficção e a realidade. Como em seu primeiro livro, a matéria-prima é a vida de cientistas e outros personagens salientes em momentos-chave da história. Sem violentar os fatos, ele se dá a liberdade de imaginar situações e fluxos de consciência para iluminar encruzilhadas científicas e morais. No caso de "MANIAC", os escolhidos são o físico austríaco Paul Ehrenfest, o matemático húngaro John von Neumann e o jogador de go sul-coreano Lee Sedol.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 31 de dezembro de 2023, mostra a figura do matemático húngaro John von Neumann usando terno e colete cinzas, camisa branca, gravata azul e sapatos pretos; ele se encontra em uma encruzilhada: de um lado uma explosão atômica e do outro, um ponto de interrogação.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman publicada também neste domingo (31.dez.23) na versão impressa da Folha - Annette Schwartsman

Cada um à sua maneira, eles passam por situações de ruptura em meio a mudanças de paradigma. Ehrenfest testemunha o assalto da mecânica quântica sobre a física tradicional. Testemunha também a ascensão do nazismo. Judeu e pai de um garoto deficiente, ele mata o menino e se suicida. Von Neumann, também judeu, consegue deixar a Europa. Vai para os EUA, onde contribui para a criação e utilização de bombas atômicas, entre outras revoluções científicas de que participou. Sedol é uma das primeiras vítimas da inteligência artificial, para a qual perdeu um torneio.

Com maestria, Labatut transforma assuntos potencialmente áridos em leitura agradável. "Agradável" talvez não seja o melhor adjetivo, já que dela emergem dilemas morais impossíveis. Sou, porém, mais simpático a Von Neumann do que é Labatut. Gostemos ou não, foi o hiper-racionalismo, por vezes pintado como monstruoso, do húngaro, consubstanciado na doutrina militar da destruição mútua assegurada, que poupou o mundo de um conflito a quente entre EUA e URSS.

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