Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu forças armadas

Virtuosismo militar

Não dá para elogiar generais por não terem dado um golpe de Estado

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Vocês não vão me cumprimentar? Hoje eu não roubei nenhum banco nem estuprei ninguém. Ridículo, certo? Deixar de cometer crimes não é virtude, mas obrigação. Não me convencem, portanto, as loas à cúpula das Forças Armadas, que teria se recusado a participar do golpe tramado por Bolsonaro e seus asseclas. Pelo contrário, o que vai emergindo das investigações é que mesmo oficiais-generais que não tiveram participação direta na conspiração foram de uma leniência ímpar para com os que tiveram. Não é difícil argumentar que, ao deixar de agir contra os golpistas, cometeram crimes omissivos.

O desenho é uma recriação do afresco A última Ceia de Da Vinci, os personagens bíblicos foram substituídos por generais e ministros de estado; no centro, no lugar de Jesus Cristo, temos o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele diz “tá gravando, cid?”
Charge do cartunista João Montanaro, publicada na página A2 do jornal Folha de S.Paulo, em 12 de fevereiro de 2023. O cartum é uma recriação do afresco A última Ceia de Da Vinci, os personagens bíblicos foram substituídos por generais e ministros de estado; no centro, no lugar de Jesus Cristo, temos o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele diz "Tá gravando, Cid?" - João Montanaro/Folhapress

Como ainda estamos numa democracia, não é absurdo afirmar que as instituições funcionaram. Mas foi por muito pouco. Se mais dois ou três generais com comando de tropas tivessem embarcado na aventura, poderíamos estar agora sob lei marcial. O Parlamento, que deveria constituir a linha de frente da resistência ao autoritarismo, também foi interessadamente omisso. Enquanto usufruíam das delícias das emendas parlamentares, deputados e senadores deixaram que Bolsonaro pintasse e bordasse. Devemos ao STF e à sociedade civil, que soube se mobilizar, ainda que na undécima hora, a preservação da democracia.

Um país não pode ficar refém de seus generais. É preciso profissionalizar e modernizar as Forças Armadas, para que se afastem definitivamente da política. Penso em mudanças nos currículos das academias, num redimensionamento do próprio tamanho das Forças e na reformulação do artigo 142 da Constituição, para deixar claro que militares não escolhem a qual Poder devem obedecer.

Não sou, porém, muito otimista. Até por causa das investigações, os generais deverão ficar retraídos pelos próximos anos. Não criarão problemas maiores para o governo Lula. Com isso, Lula não deverá gastar energias e capital político nas reformas necessárias. É sempre mais fácil apaziguar do que aprimorar as instituições.

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