Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Risco político encolhe o chão em torno do governo Jair Bolsonaro

Mercado já não crê na panaceia da reforma, e militares contemplam humilhação

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A terça-feira (7) tratou de exemplificar, em uma sucessão de fatos apenas aparentemente desconexos, o tamanho da encalacrada em que está o governo de Jair Bolsonaro nos seus meros quatro meses de existência.

Bolsonaro em cerimônia sobre nova regulação de compra de armas, no Planalto
Bolsonaro em cerimônia sobre nova regulação de compra de armas, no Planalto - Adriano Machado - 7.mai.2019/Reuters

O presidente começou e acabou o dia fazendo o que melhor sabe, alimentar a voragem das insondáveis e pouco sociais redes dedicadas a apoiar o bolsonarismo. Faz o possível o mandatário, em sua lógica: aos poucos ele parece refluir para dentro do trampolim que o lançou a um eleitorado maior em 2018.

Assim, dá-lhe defender Olavo de Carvalho a aprovar flexibilizações para compra de armas e munições. O segundo caso é previsível e respaldado na votação que Bolsonaro teve, mas o primeiro conversa com sortilégios de outra ordem.

O presidente buscou humilhar os militares em seu embate com a ala, digamos, íntima do governo —filhos, os chancelados pela prole e o espantalho preferido de todos, o supracitado escritor. As cicatrizes do episódio vão demorar para fechar, se é que irão: o risco de um desembarque futuro das alas fardadas do governo é maior do que parece na superfície.

Isso leva a outro evento da terça, a admissão do Planalto de que sim, será possível recriar ministérios para agradar aos probos do Centrão. Bom, isso é basicamente rasgar um dos pilares do bolsonarismo, a ideia de não fazer política como sempre no Brasil.

O problema é que, sem isso, não há apoio no Congresso. Sem ele, nada do Graal da reforma da Previdência —que, se de fato é vital para o país, perdeu o brilho de panaceia para a crise econômica. O que agentes financeiros vendiam como certeza áurea desde que abraçaram a candidatura Bolsonaro não parece que irá acontecer: o tsunami de dólares para investimentos no país se e quando o texto for aprovado.

O motivo? Risco político. Quem investe em um país com tal grau de desorganização administrativa, que um dia acorda privatista e noutro, dorme intervencionista? Some-se a isso a descoberta que os ministros fizeram da palavra contingenciamento: cortes provisórios daquilo que se pode cortar (na Defesa, a previsão é tosar 44% do já exíguo orçamento de custeio e investimentos, mas R$ 81 bilhões dos R$ 104 bilhões da pasta são intocáveis, vão para pessoal).

Quando isso se refletir em mais perda de qualidade de serviços públicos, boa sorte para a popularidade já decaída de Bolsonaro. Com o dólar indócil pela confusão aqui e as incertezas lá fora, nível de investimento pífio, risco de recessão e desalento com a realidade, bom, sabemos o roteiro do filme.

E aí não haverá apoio no Judiciário, sempre a um cabo e um soldado de ser espezinhado verbalmente. O Congresso fará o que sabe, procurar sangue na água e desculpas para morder. E os militares, esteio de Bolsonaro, podem bater asas se continuarem subordinados a caprichos.

Restará então ao presidente a ala olavista e sua ideia de destruição do establishment. Haverá escombros, não há dúvida, faltando saber exatamente de qual edifício. O tempo corre para a reversão do quadro pelo governo, várias coisas podem acabar dando certo. Mas niilismo nunca foi bom conselheiro, ainda mais tão cedo no jogo.

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